Coimbra
Pedrógão Grande: Confiança no futuro e na força da população marca 1.º aniversário do incêndio
A confiança de responsáveis políticos e religiosos na força das populações e no futuro da região interior afetada pelo incêndio que eclodiu há um ano em Pedrógão Grande, marcou as celebrações do primeiro aniversário da tragédia.
O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve em Castanheira de Pera e Pedrógão Grande, distrito de Leiria, no fim de semana, sublinhou hoje, à entrada da missa de homenagem às vítimas, que existe na região uma “mistura de que é feita a vida” e, se considerou importante o passado que não se pode esquecer, “é mais importante o futuro”, disse o chefe de Estado.
Marcelo argumentou ainda que “todos”, nos dias de hoje, estão a tentar construir “mais coesão, para haver menos desigualdade entre os diferentes ‘Portugais'”, depois de no sábado, em Castanheira de Pera, ter afiançado que uma das grandes lições a retirar do incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande e que provou 66 vítimas mortais e mais de 250 feridos foi o despertar de um “Portugal metropolitano” em relação aos ‘Portugais’ desconhecidos.
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Ainda em Castanheira de Pera Marcelo enalteceu a realização do Festival Literário Internacional do Interior, lembrou a “família” que disse já ter na região – consubstanciada na população afetada – visitou e cumprimentou, um a um, os bombeiros voluntários locais [corporação que sofreu uma vítima mortal no incêndio e viu quatro bombeiros ficarem feridos com gravidade] e, numa visita a uma iniciativa da associação Médicos do Mundo, destacou a importância “essencial” do voluntariado no apoio as populações, quer na emergência pós-incêndio, quer em programas que decorrem desde junho de 2017.
Já o primeiro-ministro António Costa, que hoje participou na missa de homenagem em Pedrógão Grande, realçou a capacidade de resiliência e de superação das populações, considerando que são “uma força inspiradora”.
António Costa destacou também a capacidade de reconstrução na região afetada pelo grande incêndio de Pedrógão Grande e lembrou que apenas três pessoas não tiveram vontade de reconstruir as suas casas de primeira habitação e que a generalidade das empresas afetadas decidiu avançar com a reposição do potencial produtivo.
Por seu turno, o bispo da Diocese de Coimbra, Virgílio Antunes, enalteceu na sua homilia a “fortaleza interior” e a força da esperança da população afetada pelos incêndios de Pedrógão Grande.
“Agradecemos o testemunho de fortaleza interior dado por este povo a uma sociedade débil nas suas convicções e o grande espírito de serviço, a atenção aos outros e a coragem para enfrentar as situações difíceis”, disse o prelado na sua homilia, na missa em memória das vítimas do incêndio, que celebrou na igreja matriz de Pedrógão Grande.
As cerimónias e outras iniciativas de hoje serviram, igualmente, para vários alertas, desde logo um, do primeiro-ministro António Costa, que defendeu que o país tem de se habituar “a não aguardar pelas tragédias” para dar importância àquilo que é estrutural, elegendo a floresta e o interior como prioridades.
António Costa sublinhou que o desafio é “para muitos anos”, visto que a revitalização do interior e a reforma florestal serão matérias que levarão “o seu tempo”, face ao território extenso e “muito abandonado” do interior.
Já Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, durante o XI Congresso Nacional dos Queimados, que os responsáveis políticos estão “a fazer o que podem” para combater os problemas evidenciados pelos fogos, mas sublinha que é preciso mais, para garantir há um empenho duradouro, prolongado e persistente.
Segundo o PR “há empenho a todos os níveis” e o país já mudou depois dos grandes incêndios de 2017, mas essa mudança, vincou, tem de ser suficiente, duradoura, prolongada, persistente e constante.
Na mesma iniciativa, o chefe de Estado que os queimados são doentes crónicos, considerando que os seus problemas não terminam quando recebem alta hospitalar.
Do lado dos profissionais de saúde, o Bastonário da Ordem dos Médicos, José Miguel Guimarães, disse que o país precisa de ter unidades pediátricas para queimados nas regiões Centro e Norte, acrescentando que este é um défice grande, uma questão que também preocupa o cirurgião Celso Cruzeiro, presidente da Associação Amigos dos Queimados, promotora do congresso, que considerou que a não existência em Portugal de uma unidade pediátrica de queimados é uma “pecha terrível” e “penalizante”.
Na mesma ocasião, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Soares, criticou a discrepância que há na atribuição de meios entre algumas forças e os bombeiros que têm que fazer pela vida para ter os mínimos necessários para o seu exercício.
Já a presidente da Casa do Concelho de Pedrógão Grande em Lisboa, defendeu no sábado que aquele município do interior do distrito de Leiria precisa de pessoas, sejam refugiados, migrantes ou jovens em busca de novos projetos, para conseguir renascer.
Outros avisos foram feitos pela coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que ao início da manhã de hoje, em Castanheira de Pera, afirmou que falta fazer “muita coisa” no território afetado pelo grande incêndio, sublinhando que é preciso um investimento “público claro” no interior.
Catarina Martins falava aos jornalistas antes de participar na “Caminhada de Memória”, em que mais de 200 participantes percorreram 7,7 quilómetros da estrada nacional 236-1, via onde morreram grande parte das vítimas do incêndio.
Sensivelmente à mesma hora, mas em Pedrógão Grande, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, defendia que os bombeiros constituídos arguidos não podem ser bodes expiatório do incêndio, afirmando existirem outros fatores para a tragédia, como as políticas que provocaram a desertificação do interior.
Já a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, à entrada da missa de homenagem, disse que o trabalho político de proximidade perante as vítimas da tragédia “nunca está feito” e é preciso continuá-lo “e sempre a lembrar”.
O domingo terminou com três homenagens a vítimas, todas com a presença do Presidente da República, a primeira das quais na localidade de Nodeirinho, da qual eram naturais 11 vítimas mortais e onde foi inaugurado um memorial junto a um tanque de uma fonte onde se refugiaram vários habitantes a 17 de junho de 2017.
Depois, em Castanheira de Pera, no memorial de homenagem ao bombeiro inaugurado esta tarde, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que naquele monumento “cabem todos os bombeiros”, mas recordou de forma particular Gonçalo Conceição, o voluntário da corporação local que morreu depois do combate às chamas.
A terminar, o PR deslocou-se à sede da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, onde decorreu uma cerimónia privada em memória dos 66 mortos, momento que classificou como “muito emocionante”.
À saída, em declarações aos jornalistas, o PR manifestou a intenção de ir de férias em agosto para as zonas afetadas pelos incêndios de junho e outubro de 2017 e quer incentivar os portugueses a seguirem-lhe o exemplo.
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