O líder do PS acusou hoje o Governo de “ficar à janela” a ver a celebração do 25 de Abril enquanto o “povo sai à rua”, apontando um paradoxo entre maior exigência democrática e um “sentimento de desilusão”.
De cravo na lapela, Pedro Nuno Santos assumiu a responsabilidade de discursar pelo PS na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, no parlamento, e começou por acusar o executivo de “desvalorização da data maior da democracia portuguesa”, afirmando: “hoje o povo sai à rua, enquanto o governo fica à janela”.
“51 anos depois, a democracia portuguesa vive um paradoxo entre uma maior exigência de transparência e um sentimento de desilusão”, sintetizou.
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Na opinião do líder do PS, a democracia é “mais exigente do que alguma vez foi” e sujeita “os políticos a um maior escrutínio” do que em qualquer outro momento da história.
“Este imperativo democrático de maior transparência é incompatível com comportamentos de opacidade e de ocultação. Convive mal com condutas de dissimulação e de vitimização. E, sobretudo, torna insuportável a constante chantagem e infantilização dos portugueses”, criticou, numa referência implícita ao primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Para Pedro Nuno Santos, está enganado quem acha que “os portugueses não ligam ou desconsideram a seriedade e a transparência de quem os governa”.
O líder do PS voltou depois o seu discurso para os portugueses desiludidos com os seus baixos salários, o custo de vida ou as “pessoas que têm o dinheiro contado até ao fim do mês”.
“Esta desilusão gera descrença num projeto democrático coletivo, e contribui para o crescimento de um individualismo exacerbado”, alertou.
Para Pedro Nuno Santos, “responder às promessas e aos desafios” deixados pela revolução de Abril é “saber como lidar com este sentimento de desilusão”.
A resposta, segundo o líder do PS, não está nas soluções “das diferentes direitas”, admitindo que os dois projetos da direita “são diferentes”, mas considerando que se “tocam e alimentam um ao outro”.
“Por um lado, a extrema-direita não faz outra coisa que não seja explorar e ampliar a desesperança e a legítima indignação de muitos portugueses. Sem soluções sérias e credíveis para o país, dedica-se a parasitar as desilusões do povo”, condenou.
A “direita conservadora e liberal”, segundo Pedro Nuno Santos, “usa a classe média e as suas legítimas aspirações para no fim acabar a governar para uma minoria”.
Para o líder socialista, o dever dos políticos é “o de devolver ao povo esperança num projeto coletivo, democrático e de progresso”.
“Não falo de uma esperança pueril e leviana, de uma esperança fundada em promessas vãs, movida pela demagogia e alimentada pelos truques de uma campanha permanente”, disse.
A esperança que o líder do PS pretende é a esperança defendida pelo Papa Francisco, que é “a virtude do movimento e o motor da mudança” e esperança que vive da “tensão entre a memória e a utopia que constrói os sonhos que nos esperam”.
“Um projeto para todos é muito diferente e muito mais ambicioso do que um projeto centrado na exploração do ressentimento ou na defesa do privilégio”, defendeu.
Pedro Nuno Santos começou a sua intervenção com uma saudação especial aos capitães de Abril, presentes na galeria, e ao fundador do PS e ex-Presidente da República Mário Soares, no seu centenário.
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