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Pampilhosa: “Lá em casa somos todos bombeiros: o meu pai, a minha mãe e a minha irmã de 24 anos”

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 horas atrás em 01-10-2024

Imagem: Bombeiros Voluntários da Pampilhosa / Facebook

Pelos corredores do Quartel do Bombeiros Voluntários da Pampilhosa, no concelho da Mealhada, são as vozes femininas que mais se fazem ouvir, depois de o quadro ativo ter recentemente passado a ser maioritariamente composto por mulheres.

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“Se calhar, agora, somos mais mulheres porque já fomos comandados por uma mulher que nos ensinou que aqui há bombeiros, não interessa se são homens ou mulheres. Foi um exemplo para nós e ainda hoje a chamo comandante”, evidenciou Sofia Ferreira, que pertence à corporação há 15 anos.

Há cerca de três anos, Sofia Ferreira passou a ser bombeira profissional, integrando uma das duas equipas de intervenção permanente (EIP) e deixando para trás as funções de auxiliar de fisioterapia.

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“Aqui, todos nos tratam por igual. Mas no terreno, às vezes, ainda somos olhadas de lado e, quando vamos duas mulheres, perguntam se não veio homem nenhum… Mas nós lidamos bem com isso e não ligamos”, contou, à agência Lusa.

Mãe de duas filhas, conta com o apoio do companheiro para “os horários malucos” da época de incêndios, mas também da segunda família que encontrou na corporação e que se apoia em várias ocasiões.

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A filha mais velha já está na escola de infantis e cadetes e a mais nova, de apenas cinco anos, “já diz que também quer ser bombeira”.

Apesar de já ter perdido um companheiro de corporação em 2011 e de há poucas semanas ter enfrentado “um fogo como nunca tinha visto” nos 15 anos que leva de experiência, Sofia Ferreira não se imagina a fazer outra coisa.

O entusiasmo é partilhado com Ana Baptista, de 37 anos, que tem também o marido na corporação, onde às vezes passa mais tempo do que na própria casa, e estende-se às bombeiras mais novas que, apesar de tenra idade, conhecem bem os cantos ao quartel.

É o caso de Mariana Lopes, de 22 anos, que veste a farda há três anos, depois de ter estado cerca de sete na escola de iniciados e cadetes, para onde entrou aos 12.

“Lá em casa somos todos bombeiros: o meu pai, a minha mãe e a minha irmã de 24 anos já é bombeira profissional”, evidenciou com uma pontinha de orgulho, embora ainda não saiba bem se também quer profissionalizar-se, pois está a poucos dias de se licenciar em Gestão, pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital.

“É bom estar entre muitas mulheres, mas também tem as suas coisas. Muitas mulheres juntas falam muito”, gracejou, acrescentando logo que no terreno tanto faz trabalhar com homens ou mulheres.

Já Marta Baptista, de 25 anos, entrou como estagiária há oito anos e divide o voluntariado com o seu trabalho na Cruz Vermelha de Coimbra.

“Estou bem habituada às fardas e a servir as populações. Nunca tinha pensado muito em ser bombeira, mas foi acontecendo, primeiro a ajudar com arrumação e com a comida, até que a antiga comandante me convidou a ficar. Foi um grande exemplo e apoio”, sustentou.

Ainda mais habituada à farda está Cristina Costa, que chegou aos Bombeiros da Pampilhosa há cerca de duas décadas, a última sendo profissional.

“Entrei já quase no limite, com 35 anos, depois das minhas filhas já estarem criadas”, contou, sendo apontada como a “mais brincalhona” do grupo e autora de muitas partidas, que ajudam a promover a camaradagem e o bom ambiente.

“Como é que conseguimos aguentar? Não é fácil trabalhar com tanta mulher!”, brincou Rodrigo Pontes, que contou com a anuência de Mário Fonseca e conseguiu arrancar uma gargalhada generalizada das colegas.

Apontada como a “culpada” da corporação ter vindo a crescer no feminino, Ana Paula Ramos comandou os Bombeiros da Pampilhosa de 2011 a 2017, depois de já ter feito cinco anos como subcomandante e de conhecer os cantos à casa desde os 18.

Atualmente com 51 anos, acredita que o facto de ter gostado tanto de “vestir a camisola” fez com que “o bichinho dos bombeiros se transmitisse”.

“Tanto podia ser a mãe ou a tia que precisavam, como íamos ao que chamávamos tapete cor-de-rosa para levarem um puxão de orelhas. Penso que o que fazia a diferença era estar sempre presente”, recordou aquela que também já foi Comandante Distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Aveiro.

O terceiro elemento mais graduado da corporação também é uma mulher, a voluntária Ana Rute Dias, que chegou a comandar provisoriamente a corporação durante oito meses, até ter tomado posse o atual comandante, João Marques.

“Quando entrei para os bombeiros, com 18 anos, quase não havia nenhuma mulher e, 15 anos depois, quando saí, havia meia dúzia. A sociedade mudou, também pesou a corporação ter tido uma comandante para as mulheres estarem agora em maioria”, referiu João Marques, que comanda a corporação há menos de dois anos.

Há poucas semanas foi inaugurada uma nova camarata e balneário para o contingente feminino que, “para já, ainda chega”, mas “se o número de mulheres continuar a crescer, se calhar a camarata maior terá de ficar para elas”.

“Como se pode constatar, é a voz delas que mais ouvimos nos corredores”, concluiu o comandante.

A corporação da Pampilhosa conta atualmente com 30 mulheres e 29 homens no seu corpo ativo.

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