Portugal
Padre luta contra chamas: “O inimigo chegava à porta das casas e não entrava, não estava convidado”
Imagem: DR
Pedro, de 42 anos, é padre em Covas do Rio, é um verdadeiro herói. Salvou várias aldeias do inferno das chamas.
A população ligou ao pároco em aflição. Acredita que terá havido um milagre. “O inimigo chegava à porta das casas e não entrava, não estava convidado para entrar e não entrou.”
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Seis aldeias em São Pedro do Sul estiveram cercadas pelo fogo durante a noite de segunda-feira e madrugada de terça. Falharam as comunicações, faltou a água e eletricidade, os bombeiros não responderam, ninguém lhes respondeu, a população viveu infindáveis horas de temor.
Pedro deslocou-se paróquia a paróquia, aldeia a aldeia, casa a casa, a distribuir máscaras.
“Começou a arder por todos os lados, tentámos socorrer toda a gente, salvar as pessoas, havia muita contra-informação também, que já ardia aqui, que já ardia ali. Uma azáfama. Foi angustiante: o cerco durou a madrugada toda”.
“Nunca fui bombeiro, nada sei de incêndios. Mas puxei de mangueiras, bati no fogo, nas giestas. Não chegou. Tentámos intercetar o fogo, para que o fogo não entrasse nas aldeias. Não conseguimos”, pode ler-se na CNN Portugal.
“Muita gente vive dos cortes da madeira, da agricultura, dos animais. Subsistem da terra. E está tudo destruído, tudo destruído”, frisa.
“Pediam-me que eu rezasse por eles. ‘Reze pela minha casa.’ E depois, quando me viam, viam que a fé estava junto delas, redobraram a vontade de combater. E combati ao lado delas. Depois, na terça-feira à noite, quando nos faltaram as comunicações, deixei de saber das pessoas noutras aldeias. Senti-me impotente”, confessa o pároco.
Maria acredita que só por milagre apenas uma casa ardera. “Eu pedi muito a Deus. Muito, muito.”
Ainda assim, unidos numa luta desigual, o padre Pedro não esquece que “havia muita gente perdida, claro, sem lucidez, o que é normal, amedrontada”.
“Eu comandei? [Risos] Fiz o que pude. Mas trabalhámos em conjunto. Um rapazito é que me ajudou, grande homem, grande homem!, e nem é de cá. Ajudou-me a acudir. Eu deixei a minha Rosa lá no cimo, a regar, e desci, para defender as outras casas. Salvei pelo menos três casas: a da Conceição Francisca, a do Gomes da Churrasqueira… A do capitão ardeu todinha! E quando faltou a água, fomos aos poços, a baldear, pumba, pumba, pumba!, baldes de água.”
Numa das casas, “com fogo por cima e pelos lados”, acredita ter existido um ato divino. “Não é por estar aqui o senhor padre, mas foi um milagre, foi sim, porque eu vi com estes dois olhos a casa da minha falecida irmã rodeada de fogo, rodeada!, e eu como uma mangueira, um mija-mija, consegui safar”, recorda, disfarçando a emoção enchendo um cálice. “Vá, beba lá isso!”
O padre Pedro acredita, ossos do ofício, na intervenção divina, “até porque o inimigo foi um bocadinho simpático”. “Chegava à porta das casas e não entrava, não estava convidado para entrar e não entrou. A ajuda como te disse foi nenhuma [dos bombeiros]. Podia ter sido uma desgraça”, pode ler-se na notícia da CNN.
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