Coimbra

Os semáforos em Coimbra garantem a segurança dos peões ou é preciso correr para não ser atropelado?

Ana Luísa Pereira | 2 anos atrás em 16-10-2022

O Notícias de Coimbra testou, enquanto peão, os semáforos existentes no decorrer do trajeto entre a Avenida Fernão de Magalhães e a Emídio Navarro, em Coimbra.

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Durante o percurso foram testados 18 semáforos, todos eles com características variadas. No geral todos têm estipulado o tempo de cinco segundos entre o sinal laranja e o vermelho, sendo que o vermelho para os carros, em muitos deles, aparece ao mesmo tempo que o verde para os peões. O mesmo acontece na situação inversa, o tempo de intervalo entre o sinal vermelho para os peões e o verde para os carros é também de cinco segundos.

No entanto, constatámos que o tempo de espera até o sinal ficar verde varia de semáforo para semáforo. 

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Questionada pelo NDC, a Câmara Municipal de Coimbra confirma que o tempo de espera é variável, “dependendo dos planos de faseamento e de temporização adotados em cada local, os quais são determinados em função das características físicas dos locais e dos níveis de tráfego envolvidos”.

A autarquia refere que, no caso concreto da Avenida Fernão de Magalhães, “importa informar de que estes se encontram agregados em dois grupos: um deles engloba os semáforos junto à Rotunda Cindazunda e aos Bombeiros Voluntários e o outro grupo associa os semáforos junto da escola de Almedina e os da Loja do Cidadão. Os ciclos semafóricos foram definidos de forma a garantir um período destinado à circulação viária contínua (onda de verde), de forma a garantir o escoamento fluído de tráfego”.

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Frisa também que os tempos de verde atribuídos ao atravessamento dos peões “têm de ser devidamente controlados, já que, quando maior for esse tempo, maior é o período de bloqueio imposto à corrente rodoviária conflituante, e por inerência maiores as demoras e filas de espera associadas à circulação dos veículos”. 

Já o tempo dado para os peões atravessarem a estrada ronda a casa dos 20 segundos. Há, no entanto, um deles que dá apenas 14 segundos para o peão atravessar, nomeadamente o que fica em frente ao Posto de Turismo de Coimbra. Este tempo revela-se insuficiente, mesmo para pessoas sem mobilidade reduzida.

Maria Fonseca foi uma das pessoas que falou com o NDC durante o teste e refere que, como uma pessoa que necessita do apoio de uma muleta para se deslocar, atravessar uma passadeira com semáforos “é um perigo”. A idosa, de 79 anos, realça que o tempo de passagem é curto e que na maioria das vezes não consegue chegar ao destino no tempo estipulado. Conta ainda que já lhe chegaram a buzinar por demorar a atravessar a estrada. 

O mesmo se passa com Cláudia Ruas. A jovem foi mãe há cerca de um ano e recorre ao carrinho de bebé para passear com o seu filho. Relata que é complicado atravessar em muitas passadeiras e que o tempo não chega. “Tenho muitas vezes de acelerar o passo quando vou a meio”.

Por fim, observamos que quando o tempo de espera é superior a 30 segundos os peões têm tendência a atravessar com o sinal vermelho. Muitos deles não chegam sequer a carregar no botão de mudança e optam por atravessar assim que consideram ser seguro.

Sobre este aspeto, o Município diz que, atualmente, o tempo de passagem para peões, atribuído nos diferentes locais de Coimbra, “encontra-se definido com base em parâmetros de referência, característicos para este tipo de equipamento”. Esses valores são ajustados em função do volume de tráfego pedonal e automóvel existente, assim como das características dos utilizadores habituais, podendo dessa forma diferir de local para local. “Reafirma-se que o aumento dos tempos de atravessamento tem impactes diretos na fluidez do tráfego, pelo que importa encontrar, para cada local, a solução de compromisso que sem pôr em causa a segurança dos peões, minimiza a perturbação na fluidez das correntes de tráfego”.

A Câmara refere ainda que “em todos os atravessamentos, está salvaguardado o tempo mínimo de atravessamento recomendável, não havendo registo, até ao momento, de qualquer reclamação relativa ao tempo disponibilizado para o atravessamento”.

A última atualização do sistema ocorreu em 2019, aquando da sincronização e agrupamento dos semáforos. A curto prazo, a autarquia prevê a agregação dos dois grupos atuais, “de modo a reduzir o número de paragens dos veículos e assim aumentar a fluidez rodoviária”.

Tem prevista ainda a  realização do projeto “Gestão de Tráfego”, o qual visa dotar a cidade de Coimbra de soluções relacionadas com a gestão inteligente do tráfego, designadamente: a monitorização e controlo de semáforos – ligação remota aos sistemas de controlo de semáforos para recolha de sinais e envio de comandos, para deteção de falhas, para direcionar as equipas de intervenção para os pontos a necessitar de intervenção e possibilidade de gestão remota; a monitorização integrada de tráfego – integração de sondas de tráfego (e.g. smart phone, sondas estáticas e câmaras) e identificação das zonas de congestionamento; corredores verdes: sincronização de vários semáforos para permitir a criação de corredores verdes de circulação (e.g. a circular a 50Km/h possibilitar ir da Portagem à Casa do Sal sempre com sinais verdes); criação de algoritmos de coordenação; priorização para transportes públicos; articulação com o sistema integrado dos SMTUC para definir prioridades para os transportes públicos (e.g. autocarro a circular com atraso) de modo a coordenar com os sistemas de semáforos e permitir criar corredores verdes pontuais;

Este projeto foi objeto de candidatura ao Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU) e faz parte do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS), aguardando-se a disponibilização de verbas para a sua execução.

O NDC observou que muitas das pessoas não esperam que o sinal mude para verde e acabam por passar a estrada com ele vermelho e entre os carros, muitas vezes com risco pessoal.

Relativamente às medidas para incentivar a mudança deste comportamento, o Município de Coimbra realça ter vindo a colocar contadores de contagem regressiva nos semáforos, designadamente associadas à contagem decrescente para a obtenção do sinal de verde. No caso dos veículos, o recurso a este dispositivo “pretende não só melhorar o desempenho do sistema, por redução do tempo perdido no arranque, mas também reduzir os impactes ambientais, ao evitar acelerações desnecessárias associadas ao arranque”.

Menciona ainda que, no caso dos peões, “está comprovado cientificamente que a existência de contagem regressiva, quer associado ao sinal verde quer vermelho se traduz em comportamentos mais pacientes e num maior nível de acatamento e respeito pelos sinais semafóricos”. Integrar o tema “segurança rodoviária” nos conteúdos programáticos de disciplinas de Formação Cívica, de forma a sensibilizar a população para o flagelo da segurança nas estradas, é também importante para a Câmara Municipal.

 

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