A Orquestra Clássica do Centro (OCC) apresenta uma programação com vários “analgésicos” para um tempo marcado por conflitos, num ano em que trabalha obras de João Domingos Bomtempo e Carlos Paredes, entre outros.
“Estamos a procurar o alívio da dor e da alma”, afirmou o maestro titular da OCC, Sérgio Alapont, que falava hoje em Coimbra, durante a apresentação da programação da orquestra, que vai percorrer vários pontos do país ao longo do primeiro semestre.
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O maestro espanhol, que tem na cabeça “imagens de deportações, bombardeamentos e guerra”, afirmou que a proposta da Orquestra Clássica do Centro passa por apresentar “analgésicos para aliviar a dor da sociedade”, num programa preocupado com o seu impacto social.
“Usamos a arte, a música, o humanismo, para tentar chegar à sociedade e isso é um grande privilégio”, sustentou.
Um dos momentos destacados do primeiro semestre centra-se na celebração dos 500 anos do nascimento de Camões, ao qual se junta os 250 anos do nascimento do compositor João Domingos Bomtempo, “o Beethoven português”, disse Sérgio Alapont.
O concerto irá realizar-se a 10 de junho, em Penedono (distrito de Viseu), e, no mesmo mês, irá também acontecer na Sé Nova, em Coimbra, em data a anunciar.
O concerto, centrado no requiem do compositor, procura celebra João Domingos Bomtempo, “que tem uma dimensão criativa que é incrível de contemplar”, notou o maestro.
“É um artista que não tem uma obra tão extensa como a de outros compositores e, talvez por isso, não tenha um justo reconhecimento”, afirmou.
Neste semestre, também em junho e julho, haverá concertos em torno da obra de Carlos Paredes, no âmbito do centenário do seu nascimento, que junta a orquestra com Luísa Amaro, Mafalda Lemos e Ricardo Silva, na guitarra portuguesa.
Um concerto para violoncelo de Saint-Saens (29 de abril, na Sé Nova de Coimbra), a ópera “Così fan tutte”, de Mozart (17 de maio, Convento São Francisco, Coimbra) e espetáculos para o público infantil são outras das propostas de um semestre em que a orquestra vai andar por concelhos como Águeda, Viseu, Fátima, Porto, Cantanhede e Lisboa, alguns dos quais incluídos num ciclo intitulado “Concertos da Justiça”, que decorre em tribunais.
Segundo a presidente da OCC, Emília Martins, a programação deste ano está inserida no programa de quatro anos (que se estende até 2026) que tem como tema “A Terra em 4 Andamentos”, estando sempre presente uma preocupação na “luta pelos direitos fundamentais, pelos direitos humanos e pelos direitos de outros seres”.
De acordo com a responsável, haverá concertos com formações maiores, vários de formação de câmara, estando também previstas outras atividades paralelas, nomeadamente a continuação do trabalho de inclusão “Desconstrução”, junto de crianças e jovens que estão em casas de acolhimento.
Emília Martins adiantou que estão envolvidas no projeto cerca de 20 a 25 crianças, estando já três a ter aulas de percussão com a orquestra.
Presente na conferência, a coordenadora do Ministério Público da Comarca de Coimbra destacou a importância do convívio dessas crianças e jovens “com a comunidade artística”.
“Dessa forma, também se promovem os direitos destas crianças e o seu bem-estar e felicidade”, acrescentou.
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