O bastonário da Ordem dos Médicos afirmou hoje que o Estado deve ter uma “atitude diferente” na forma como trata os jovens médicos e mostrou-se convicto de que com “valorização” e “condições adequadas” estes escolherão o serviço público.
“Ao nível do internato e da especialização é muito importante que o Estado passe a ter uma atitude diferente com os jovens médicos; com estes jovens que acabam de se formar, mas também com os jovens que fazem e acabam a especialidade”, disse Miguel Guimarães em declarações à margem do Juramento de Hipócrates de 140 médicos recém-formados, que cumpriram o ato simbólico que marca o início do exercício da profissão, que teve hoje lugar na Covilhã, distrito de Castelo Branco, numa cerimónia organizada pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM).
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Uma profissão que tem de ser “valorizada” para que os médicos queiram manter-se no Serviço Nacional de Saúde (SNS), referiu, frisando que é preciso fazer o que diz a célebre música de Caetano Veloso: “Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”.
“Os médicos naturalmente gostam do SNS, se lhes forem dadas as condições adequadas para exercerem a sua profissão com qualidade não tenho dúvidas que a grande maioria deles fica a trabalhar no serviço público”, apontou.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, essas condições passam pela valorização dos profissionais, pela existência de meios técnicos e humanos e pela segurança e tranquilidade “que atualmente falta e que leva alguns profissionais a pedirem escusa de responsabilidade”.
Destacando que o problema de falta de profissionais é transversal a todo o país, Miguel Guimarães também defendeu que a receita para fixar médicos no Interior terá de incluir uma “política de incentivos”, com base na produção e qualidade.
“Se tivermos uma boa política de incentivos e se o Governo seguir esse caminho, provavelmente vai conseguir ter mais gente nas regiões mais periféricas seja aqui na Covilhã, na Guarda em Castelo Branco seja no Algarve, seja noutras zonas”, acrescentou.
Sublinhou que não é com imposições que o Estado cativará os profissionais e reiterou que a exclusividade pode ser uma boa opção para conseguir ter mais médicos no SNS, mas apenas se ela for opcional.
Durante a cerimónia, o bastonário disse ainda que não queria falar do estado da saúde em Portugal porque seria “deprimente”, mas fez questão de desmistificar a ideia de que o curso de Medicina fica mais caro ao país do que outras formações.
“Vocês não devem nada ao Estado, o Estado somos todos nós. Somos todos os que pagamos impostos, e que temos obrigação, como nação, de dar uma educação às pessoas”, disse, dirigindo-se aos médicos recém-formados, a quem também lembrou a responsabilidade da profissão escolhida.
Uma ideia reiterada pelo presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, que não poupou críticas ao Governo, sublinhando que a planificação feita nestas últimas décadas foi “desastrosa” e que “as restrições financeiras impostas ao Ministério da Saúde impedem as contratações mais premente”.