Opinião
Ordem na casa
Causou espanto uma simples, e legitima, intenção de arrumar a corporação. São muitos anos a divagar, semestres sucessivos de escutas, suspeitos que não são arguidos e arguidos que não são ouvidos. Casos de poder discricionário, em que a culpa morre solteira num país que em dez anos não conseguiu julgar um primeiro-ministro e que em sete meses não produziu um esclarecimento sobre uma vã suspeita que levou à queda de um governo. E na Madeira, outro, tornando a ilha ingovernável.
Os políticos têm medo das corporações judiciais, sobretudo das que não são órgão de soberania – mas agem como tal.
PUBLICIDADE
Casos a mais, responsabilidades a menos e um pedido: o “novo procurador-geral tem que pôr ordem na casa”.
Espumoso, a precisar de apontar o dedo, ignorante em geopolítica, houve quem viesse a terreiro defender o magistério.
Não me parece que as palavras da ministra da Justiça sejam descabidas. Mais claro, são totalmente necessárias. Quatro anos de escutas? Separação de poderes? Mas não tem uma tutela?
Rita Alarcão tem toda a razão para pôr fim à “descredibilização” que o Ministério Público vive.
Ocupado em mudanças, uma ideia velha de novo nome, que faz mais. Tem sido tudo assim, fazer mais com as calças de meu pai.
O fazer mais é, sem dúvida alguma, uma reforma da Justiça, ou, como disse o Magistrado, “sem vinganças”. Curiosa achega para meter numa urgência, mas, enfim, não pode, e cito, “ficar a sensação de que se faz uma reforma da justiça à medida de conveniências de cada momento”.
Não são conveniências, veja-se a decisão do Tribunal de Tondela, ontem, que perguntou, num julgamento, se “é legítimo fazer um assassinato de caráter a alguém sem possibilidade de resposta?”, ou como disse o juiz “depois de propalada uma mentira, não se pode retirá-la para trás”.
Por isso se reclama o fim desta indecência, e corajosa foi a ministra que chamou os sarilhos pelo nome.
Melhor, com pena minha, do que mudar de governo a meio do jogo, como solicitou o senhor de Boliqueime, que a seguir ao bruxo de Fafe, é quem mais sabe destas cousas.
De caminho, todos esconderam a cara e não lhes apareceram os números estranhos que nos ditam futuro.
O défice das contas públicas portuguesas agravou-se para 2, 5 mil milhões de euros até maio. Dar tudo a todos tem custo, e em mês de pagar impostos, doi a leviandade.
E, tal como outros que espatifaram a herança, as culpas são alheias.
Mas, lá está, há pressão crescente sobre as finanças públicas portuguesas.
Mas sobre isto? Está calada mula!
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
Related Images:
PUBLICIDADE