Cidade
Oratória do Vento no Teatro da Cerca de São Bernardo
No próximo sábado, a 9 de Abril, pelas 21:30, que a Companhia de Teatro de Braga (CTB) regressa ao Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, desta vez com “Oratória do Vento”, um grandioso espectáculo que junta em palco um elenco de oito actores e um coro de 30 vozes, a partir de um texto do escritor Vergílio Alberto Ferreira, inspirado na lenda de Santa Maria Egípcia.
Também conhecida como Santa Maria Egípcia ou Santa Maria do Egipto, é celebrada por católicos, coptas e ortodoxos.
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A sua história é a de uma mulher que vivia em Alexandria, no Egipto, entre os séculos IV e V. De acordo com as biografias religiosas, aí se dedicava à prostituição (ou, pelo menos, a uma vida “dominada pela luxúria”).
Numa viagem a Jerusalém, que aparentemente não tinha uma motivação espiritual, acaba por sentir uma “força irresistível” e tomar consciência “dos seus pecados”.
De lá parte para o deserto, onde terá vivido perto de 50 anos, como uma eremita. Um dia, foi encontrada por um monge chamado Zósimo, a quem conta a sua história e a quem pede a Santa Comunhão. Como haviam combinado, o monge regressa ao mesmo local um ano depois e encontra-a morta, junto a uma mensagem, escrita na areia, em que ela lhe pedia para que ele mesmo enterrasse o corpo.
O monge acede, com a milagrosa colaboração de um leão, que o ajuda a abrir a cova. A história de Santa Maria Egípcia tem inspirado diversas obras de arte da cultura ocidental e oriental, do folclore à literatura, passando pela música e pela pintura.
Sobre este espectáculo agora apresentado pela CTB o encenador Rui Madeira afirma que se trata de uma leitura da lenda “através dos tempos, num cruzamento dialéctico com as vivências, os sofrimentos, as angústias, os espantos e os irracionalismos fundamentalistas na Europa e no Mundo Árabe”. Num registo com algo de provocatório, escreve na nota de encenação: “Nas mitologias da fé (de que hoje somos todos vítimas?) o Homem e o seu Filho ‘estão sempre cercados’ por imagens femininas que abrem o caminho, o sedimentam e parecem fortalecer as ‘novas ideologias da redenção’ que nos conduziram à ‘guerra das religiões’ a que uns assistem e outros, barbaramente morrem. Deus (ou alguém por ele) vale-se do artifício da Palavra e da sensualidade da mulher como arma poderosa contra os inimigos”.
Assumindo, como sempre no trabalho da CTB, a marca política do seu trabalho artístico, Rui Madeira conclui: “trata-se de uma criação sobre nós e a incapacidade de nos reconhecermos no outro. Um espectáculo de pessoas em trânsito, contra muros e fronteiras, à procura da terra onde possam expiar o sofrimento.”
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