Opinião
Ora viva, caríssimo progenitor do doutor Nuno
Vi, espantado e de olhos esbugalhados, uma aparição. De tão frequente que tem sido que, confesso, pensei que as borbulhas das Bágeiras me estavam a toldar a mente., habituado que estou ao bruto. Mas não, era real e uma furtiva lágrima “rompeu a saudade” e caiu, sem pudor no nariz. Aqui há esturro, disse para comigo.
Foi lá longe, no cinema São. Jorge, filme que contou com a presença de sua excelência na abertura.
O 5.º Congresso, ouviu, estarrecido, o Presidente da República pedir para que “o Estado não se alheie, nunca, de um debate essencial”.
E pediu, o caríssimo progenitor do doutor Nuno, reflexão sobre “meios, públicos, históricos e importantes” e “só numa base de entendimento amplo, de forças e hemisférios doutrinais, ideológicos e políticos diferentes, é que é possível abordar esta temática de regime”.
Sobre as condicionantes camarilhas municipais, que pressionam e enxaguem órgãos da imprensa local porque lhes dói cotovelo quando leem o que não lhes agrada, nem uma palavra. Sobre as agressões a jornalistas, e sabemos disso nesta casa, silencio, não vá a academia e a igreja levantarem-se em burburinho.
“Bem Longe Daqui”, diria a Perpétua, nota-se um certo aburguesamento, falamos aqui para nós e esquecemos os outros.
Nem um pio para a literacia, para a censura, para a loucura. Estamos assim, em vésperas de eleições, a comer porrada, tantos de salários em atraso, outros muitos a sofrer contingência de uma imprensa livre. Livre e assumida.
Não nos vergam, emancipados que estamos, e sabemos com que custos, mas conhecemos a necessidade da imprensa. A receita é com os médicos, mas há quem a tenha encontrada prescrita e a pratique.
No Observador e na Sábado, que nos contaram como em vésperas eleitorais houve intendente a assessorar governo e como, tudo o indica, garantem os jornais da capital do império, devido assessor, tem o trabalho atrasado e fez cair governo. E fim de citação que o resto já todos o percebemos. Voltou o país do regedor e da corporação, do respeitinho e do cacete. Em linguagem militar, que já chovem paraquedistas dos céus, um golpe de mão, uma operação ‘mar verde’.
Talvez Nó Górdio, a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa que a outra, a do 11 de março, temo bem ir pelo mesmo caminho do conúbio.
Não há Primavera que nos valha, mas o Inverno foi feliz para a Alice, que nasceu nesta semana de chuva, ali em Souselas, numa ambulância feita maternidade. Ainda lactante e já torna viagem.
Valham-nos os ibéricos, vinhos, presuntos e autarcas, que reclamam, e com razão, comboio de Aveiro a Salamanca. Na última tabela que vi era investimento de 700 milhões, para a criação do corredor ferroviário, como agora se diz.
Um regresso a Salamanca, 16 anos depois que o jornalismo tem memória, para conversar sobre as escassas ligações ferroviárias entre Portugal e Espanha, o impacto destas limitações na mobilidade de pessoas e mercadorias e o obstáculo criado que impede o crescimento económico de ambos os países.
Um “Encontro para o Impulso do Transporte Ferroviário do Corredor Atlântico – tramo Ibérico – Aveiro – Viseu – Salamanca”.
Um tramo e felizes os convidados para o comboio do Senhor. E uma trama. Fugir ao IP-3 e descambar na Estrada da Beira, para encostar na beira da estrada. Três dezenas de automobilistas foram prendados com uma coima, e siga o risco que não há protesto que lhes valha.
Entrementes, com tanto partido a receber contributos para a governaça da Pátria, junto-me ao coro e prego novena pelo comboio. E pela liberdade de imprensa.
Na falta de melhor, desejos de estar num lugar quando se está noutro. Diria o exilado dos pastéis. Há que enxamear metáforas, alegorias e sarcasmos, para perceber a receita e a aparição.
Agora deixem-me ir ali falar com o cacique cá da terra, cuidar do lugar da nora, rezar pelo desembarque dos paraquedistas, que nem democracia, nem tirania. O poder, afinal, é hereditário e imposto.
OPINIÃO | AMADEU ARÁUJO – JORNALISTA
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