Portugal
Odemira: População teme mudanças do vento mas une esforços contra fogo
Com o “coração nas mãos” devido ao incêndio que lavra no concelho de Odemira, distrito de Beja, a população de um pequeno lugar teme as mudanças constantes da direção do vento e une esforços para combater as chamas.
O lugar de Maroucos, a cerca de oito quilómetros da freguesia de São Teotónio, onde o fogo rural teve início no sábado à tarde, não tem mais do que 50 habitantes, que vivem em moradias ou quintas espalhadas pela zona.
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Muitos, sobretudo os mais velhos, já deixaram as suas casas, por precaução, mas no local mantém-se um grupo de moradores que se entreajuda no combate às chamas e presta apoio aos bombeiros.
“Ontem [segunda-feira], tivemos as chamas muito perto e não havia bombeiros. Tivemos que regar e com um trator aceirar o mato para reduzir a matéria que pudesse arder”, conta à agência Lusa Daniel Bernardo, enquanto se refresca com uma garrafa de água.
Com uma casa e uma exploração agrícola ameaçadas pelo fogo, Daniel vive em constante sobressalto e diz que à noite não consegue dormir: “Só consigo descansar um bocadinho os olhos”, salienta.
Por agora, a situação está controlada, pelo menos naquela zona, já que vários bombeiros e viaturas de combate às chamas se encontram posicionados entre o incêndio, que lavra no fundo de um vale, e as casas.
“Mas, se o vento volta a mudar, estamos em perigo outra vez”, avisa João Martins, outro dos vizinhos, enquanto se encaminha para o alpendre da casa de José Marcelino, que, por estes dias, oferece o que tem a quem precisa.
Juntamente com a mulher, José Marcelino, reformado da construção civil, realça que não tem mãos a medir para servir cafés e águas e até já disponibilizou a sua casa de banho para os bombeiros tomarem um duche.
Numa carrinha todo-o-terreno, o presidente da Câmara de Odemira, Hélder Guerreiro, e o presidente da Junta de Freguesia de São Teotónio, Dário Guerreiro, param junto à casa de José Marcelino para um ponto de situação do fogo.
Perto destas casas, os vizinhos colocaram, de prevenção, duas carrinhas de caixa aberta e uma camioneta com depósitos de grandes dimensões cheios de água. Num dos veículos, foi colocada uma motobomba para, se for preciso, atacar o incêndio.
O tempo de descanso é curto e os vizinhos dirigem-se agora para uma colina, onde já se encontram dois carros de combate a incêndios e de onde é possível observar, no fundo do vale, a evolução das chamas.
Francisca Gonçalves, de 85 anos, que entretanto chega de carro a esta colina, diz à Lusa que veio “ver se o fogo já tinha chegado” à sua propriedade, reconhecendo que “não estava descansada em casa”.
“Há 20 anos ardeu tudo e agora arde tudo outra vez”, afirma esta idosa, que vive na Zambujeira do Mar, a cerca de 20 quilómetros de distância.
Por aqui, acredita-se que as chamas já tenham destruído casas e Daniel Bernardo relata que, na segunda-feira, ouviu explosões, o que, presumiu, podem ter sido garrafas de gás a rebentarem com o fogo.
O incêndio rural numa área de mato e pinhal deflagrou na zona de Baiona, na freguesia de São Teotónio, a meio da tarde de sábado, e já entrou por algumas vezes no Algarve, tendo na tarde de segunda-feira rodeado o centro de Odeceixe, no concelho de Aljezur (distrito de Faro).
O fogo levou a Câmara de Odemira a ativar o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil, com efeitos desde as 14:30 de domingo.
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