Admito que sou um tipo esquisito. Um exemplo: nas manifestações, não caminho indiferente a quem segue ao meu lado, antes presto atenção ao lugar que ocupo na coluna, porque é bem possível que as razões por que outros protestam sejam o absoluto inverso das minhas e eu não quero cá confusões.
Talvez tenha sido esta minha idiossincrasia a levar-me a pensar se Herman José traria convidados para a cerimónia em que lhe será entregue o Prémio Universidade de Coimbra e quais seriam. Porque me parece que não será indiferente para a multissecular instituição que se sentem nos bancos da Sala dos Capelos pessoas escolhidas pelo Herman que teve como convidados nos seus programas Ramalho Eanes, Carlos Lopes, Cher ou Omar Sharif, ou o Herman que ajudou a celebrizar personagens como o Professor Herrero ou a Pomba Gira.
Não me interpretem mal, acredito que o humorista é um mais do que justo vencedor daquele galardão, porque alguém que pode orgulhar-se de ter (re)ensinado um país a rir merece todos os prémios. A única coisa que me incomoda verdadeiramente é mesmo um dos motivos invocados pelo júri para justificar a sua decisão: tratar-se de alguém que nunca cedeu ao politicamente correto.
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De facto, não haverá muitas pessoas que tenham feito tanto pela liberdade de expressão em Portugal como Herman José – tendo pago por isso com a sua exclusão dos (na altura importantíssimos) palcos televisivos – mas tal não é sinónimo de sempre ter sido uma voz livre. Só que não foi o politicamente correto a calá-lo, mas sim o fascínio pelo poder…
Recordo-me bem de o ouvir explicar que a sua transição de humorista acutilante e genial para apresentador anódino de programas de mínimo denominador comum foi em grande parte determinado pelo facto de ter passado a frequentar os mesmos salões das elites política económica e ser-lhe mais difícil fazer piadas sobre amigos do que sobre pessoas que não conhecia.
Curiosamente, foi só quando começou a escolher melhor as suas companhias que recuperou algum do génio que lhe reconhecemos – e, arrisco dizê-lo, da sua credibilidade. Pelo menos aos olhos de um maluquinho que acha que há grande verdade no adágio «Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és». E que, também por isso, não pode deixar de dizer: Parabéns, Herman José! Parabéns, Universidade de Coimbra!
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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