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“O Piccolino (na DOPPO) tem como proposta oxigenar a cena artística da cidade”
Quando a Arte representa de várias formas um ar fresco para contrariar a realidade, muitas vezes árida, a cidade transforma-se num grande palco de expressões artísticas.
O projeto Piccolino nasceu em dezembro de 2022, idealizado por Fernando Castelo Branco, proprietário da gelataria artesanal DOPPO, situada no número 9 da Praça do Comércio. Uma das mais antigas praças de Coimbra, que já teve outros nomes no passado, começa a ter alguma agitação cultural. A coordenação criativa do projeto, em 2024, ficou nas mãos dos artistas e curadores, Adolfo Caboclo e Inês Moura.
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Tolstói afirmava que “a arte é um dos meios que une os homens”. E o projeto Piccolino nasceu com essa ânsia, principalmente, a pensar num público mais amplo que, normalmente, frequenta os museus. A DOPPO está a contribuir para que famílias, amigos, transeuntes locais e turistas, que vão comer um gelado à Baixa, tenham, também, um contato fluido com a arte. Apesar de pouco tempo de existência, muitas pessoas criaram o hábito de ir à DOPPO provar um sabor novo e descobrir quem é o artista que tem as suas obras nas paredes da gelataria.
O projeto debate várias questões: os limites de um local privado que exerce um fomento cultural público; quem valida e legitima as expressões artísticas expostas na cidade; qual o lugar da arte contemporânea na vida das pessoas e como isso pode mudar a degradação da Baixa. “O Piccolino tem como proposta oxigenar a cena artística da cidade”, segundo os seus curadores.
Adolfo Caboclo construiu a metáfora do projeto – se uma galeria ou um museu são um grande banquete artístico, “piccolino” significa justamente o oposto, o menor cone de gelado -, uma degustação artística em dimensões reduzidas.
Segundo os artistas, no campo da arte contemporânea as novas perspectivas culturais são abraçadas por Coimbra. “O exemplo é o grande público presente na Anozero – Bienal de Coimbra ou nas exposições do colectivo Pescada Nº5. Temos ainda a força do trabalho feito no CAV, no CAPC e no CACC. A efervescência e a chegada de notórios talentos ao Colégio das Artes da UC. Coimbra gosta de conhecer artistas e descobre, a cada dia, que gosta cada vez mais.”
O projeto foi crescendo em conceito, escala e força, afirma Inês Moura. “A prova disso são as duas parcerias já asseguradas: uma com o Festival Internacional de Documentário, DOC.COIMBRA e, também, com a Anozero’24 Bienal de Coimbra. Estas parcerias acontecem, respectivamente, nas duas primeiras exposições do projeto, nos meses de fevereiro e abril.”
Inês Moura e Adolfo Caboclo trabalharam juntos em outros projetos: Colectivo Pescada Nº5, “232° Celsius” (2022) e “O Sal que Não Salga” (2023). A parceria começou em 2023, com o segundo ciclo do Piccolino. Pensado e desenhado pela dupla, na toalha de papel que cobria a mesa do almoço, num dia de sol do mês de dezembro, no Pátio da Inquisição. “Ali foram decididas algumas das participações para 2024, e o mais importante, a vontade de ambos de criarem propostas educativas, como conversas com os artistas sobre os seus processos, durante o período das exposições que passam a ser bimestrais.”
Atualmente o critério é investigativo para a seleção, passam pelo campo estético, técnico, momento da carreira e histórico da/o artista. “Há nestes cinco artistas histórias muito diversas. Alguns em ascensão, outros infelizmente praticamente desconhecidos. Gerações separadas por décadas ou fronteiras. Mas o grupo apresenta coesão no sentido em que para todas e todos esta exposição na DOPPO representa o desafio de dar a conhecer o seu trabalho artístico num outro contexto, seja ele de escala, país, ou linguagem artística explorada”, garante Inês Moura.
As obras são inéditas, ou pelo menos no contexto da cidade de Coimbra. A grande maioria dos artistas pensou em projetos específicos para a sua participação no projeto. O público pode esperar ineditismo.
O primeiro encontro deste ciclo do Piccolino acontece no dia 25 de Fevereiro às 18h00, com a inauguração da exposição (6 x 9) dedicada ao trabalho de Hilda Rebelo (1934 – 2011). O trabalho dialoga diretamente com o documentário “A Fotógrafa do Vulcão” (2022), da realizadora espanhola Mar Navarro Llombart, a quem Caboclo e Moura devem o encontro com este extraordinário acervo fotográfico, por muitos, desconhecido no nosso país.
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