Opinião

O passar dos dias

OPINIÃO | Nuno Mateus | 12 meses atrás em 12-12-2023

A nossa vida tem fases temporais, que correspondem à nossa idade.

Sim, isto é uma frase feita, dirão. Mas reflictam sobre isto numa outra perspectiva que vos vou escrever. 

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Temos o tempo das idas aos casamentos, das idas aos baptizados e das idas aos funerais.

A primeira, a dos casamentos, traz-nos de volta a nossa juventude. O final dos namoros dos e das nossas colegas, que decidiram constituir família, entrelaçando-se na igreja ou no registo civil.

E, em avalanches sucessivas, vamos a todos, de sorriso estampado e fatinho ou vestidinho da moda. Celebramos o fim da mocidade e a entrada na idade responsável, entre danças exotéricas, brindes e muitos copos na mão. O regresso a casa é um suplício, com árvores que parecem estar no meio da faixa de rodagem, a uma velocidade estonteante de 15 quilómetros por hora, para acertarmos na rua onde residimos.

Depois, começam os baptizados. E é ver-nos novamente todos emperiquitados de dente ao léu, a mostrar os herdeiros, e a contar histórias de noites mal dormidas, desarranjos intestinais, e inteligência superior das criancinhas. Já não há tanta dança, os copos fogem-nos das mãos porque há que cuidar dos sonos, dos gritos, das papas, das fraldas…e depois há que regressar a casa, já um pouco mais depressa, porque a criança precisa da alcofa e perdeu a chupeta, no meio da confusão.

Por fim, vivemos a fase dos funerais. O sorriso transforma-se em lágrimas, saudade, e recordações de um passado que parece distante. Olhamos à volta e vemos quem já lá não está e nos faz falta. A música desapareceu, os copos sumiram-se, as roupas de festa foram à vida. Um fatito qualquer, ou uma calça de ganga serve para a ocasião. As conversas são curtas, de semblante carregado, e as respostas sobre a família mostram já o distanciamento, com o “é a vida” a justificar o porquê de já não vemos o filho ou a filha há meses, porque trabalha lá para o sul. E o regresso a casa, faz-se a pé, serenamente, de óculos escuros, olhando as ruas, os prédios e as montras das lojas. De casaco fechado e gola subida, porque um frio polar instalou-se no ar e no nosso espírito, enquanto olhamos para o telemóvel esperando uma chamada que não vem.

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