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O inovador e desportivo Giulietta Berlina celebra 70 anos

Notícias de Coimbra | 2 dias atrás em 21-04-2025

A 20 de abril de 1955, no Salão Automóvel de Turim, a Alfa Romeo apresentou o Giulietta Berlina, um veículo destinado a mudar para sempre a indústria automóvel italiana.

Elegante, tecnologicamente avançado, acessível e desportivo, o Giulietta Berlina encarnou o sonho de toda uma geração e tornou-se um símbolo do boom económico de Itália. Exatamente 70 anos depois, a Stellantis Heritage e a Alfa Romeo prestam homenagem a um modelo que marcou uma transição definitiva da produção personalizada para a produção industrial. Tudo começou em 1900, mas o Giulietta conduziu a Alfa Romeo para o futuro, levando as capacidades técnicas da marca para um nível industrial.

Roberto Giolito, Diretor da Stellantis Heritage, declarou: “O Giulietta Berlina trouxe o ADN desportivo da Alfa Romeo para a vida quotidiana dos italianos, colocando a engenharia de ponta e as suas aspirações ao alcance de uma classe média emergente. Este modelo foi capaz de misturar o prestígio dos veículos desportivos do Biscione com a funcionalidade de um automóvel familiar, estabelecendo-se como um símbolo de progresso e renascimento na Itália do pós-guerra.”

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No início dos anos 50, a Alfa Romeo – depois de ter conquistado dois títulos consecutivos de Fórmula 1 com o Alfetta conduzido por Farina em 1950 e Fangio em 1951 – sentiu a necessidade de expandir a sua produção e chegar a um público mais vasto, preservando o seu estilo, tecnologia e alto desempenho. Com isto em mente, nasceu o Giulietta: um automóvel compacto, moderno e económico, capaz de manter o espírito competitivo e refinado dos veículos do Biscione. No entanto, surpreendentemente, foi o coupé Giulietta Sprint, e não a berlina, que se estreou no Salão Automóvel de Turim em 1954.

Desenhado por Franco Scaglione para a Bertone, o Sprint – um coupé compacto de alto desempenho com um motor de cilindrada inferior a 1500 cc – teve uma receção extremamente positiva. O mesmo designer criou, também, o “2000 Sportiva” do mesmo período, o posterior “Giulietta Sprint Speciale” e o incrível “33 Stradale” de 1967. Na esteira do sucesso do 1900, a Alfa Romeo apresentou um coupé mais pequeno com prestações superiores no Salão Automóvel de Turim de 1954. Isto marcaria a estreia do Biscione na categoria dos compactos – motores com menos de 1500 cc – e seria a primeira vez que um coupé era apresentado antes de uma berlina.

A Alfa Romeo utilizou o charme e a desportividade do Sprint para gerar entusiasmo para a chegada do Giulietta Berlina, a ser lançado no ano seguinte, e planeado para uma produção limitada. No entanto, a receção que o Giulietta Sprint teve mudou tudo. Após o Salão Automóvel de Turim, os concessionários Alfa Romeo foram tomados de assalto e o Giulietta Sprint foi um sucesso comercial instantâneo, levando a Alfa Romeo a acelerar o desenvolvimento da berlina.

Assim, a 20 de abril de 1955, o Giulietta Berlina fez a sua estreia, marcando a primeira vez que um modelo compacto tão potente foi comercializado como um veículo familiar. Após o 1900, a empresa sediada em Milão desenvolveu o seu conceito de uma berlina desportiva de tamanho normal. A Alfa Romeo chamou-lhe “o automóvel familiar que vence corridas”. Capaz de bater recordes nas mãos de gentlemen drivers e futuros campeões, o seu slogan afirmava que “a Mãe também o conduz”. Assim começou uma nova era e a Alfa Romeo foi pioneira no conceito de “condução desportiva ao alcance de todos”.

Pode dizer-se que o Giulietta inventou uma nova classe de veículos de 1300 cc que estava destinada a tornar-se um padrão europeu. Para não mencionar que não havia berlinas produzidas em massa no mundo que pudessem igualar a mecânica e o desempenho do Giulietta. É por esse motivo que este modelo foi um fator de mudança. E, como prova do legado da Alfa Romeo, este modelo ainda se mantém atual após todos estes anos.

Especificamente, o design foi desenvolvido pelo Ufficio Stile Alfa Romeo e faz referência a elementos do Sprint na dianteira, antecipando a identidade estética da futura gama – aquilo a que hoje chamamos family feeling. Tecnicamente avançado, o Giulietta recorreu a soluções de ponta para a época. Por exemplo, estava disponível com um motor de 1290 cc, com duas árvores de cames, que debitava 53 cv e atingia uma velocidade máxima de 140 km/h, o que era incrível para a época, graças ao seu baixo peso de 870 kg.

O refinado motor do Giulietta era fabricado em alumínio (uma estreia absoluta no mundo automóvel), tal como a caixa exterior da transmissão e do diferencial. As camisas dos cilindros são montadas por pressão em ferro fundido especial. O sistema de válvulas era uma configuração de dupla árvore de cames à cabeça (única para uma pequena unidade de potência na altura), enquanto a cambota estava montada em cinco rolamentos.

O automóvel de tração traseira também se destacava pelo comando da caixa de velocidades no volante (uma alavanca de embraiagem passou a estar disponível como alternativa em 1957) e pelo travão de estacionamento de puxar localizado por baixo do painel de instrumentos, à esquerda do volante. A suspensão dianteira era também independente com molas helicoidais, braços triangulares e uma barra estabilizadora. A suspensão traseira era independente, com molas helicoidais, braços triangulares superiores e barras. A travagem era assegurada por quatro tambores produzidos através de um processo de fundição especial da Alfa Romeo.

É também de salientar que a produção do Giulietta Berlina marcou um ponto de viragem para a Alfa Romeo. Embora a produção em série tenha começado com o 1900, o Giulietta foi o veículo que transformou a fábrica de Portello numa fábrica moderna. No início da década de 1950, a fábrica de Milão ainda estava preparada para a produção personalizada, incapaz de produzir mais de 50 veículos por dia. Com o Giulietta e as intervenções do engenheiro austríaco Rudolf Hruska, todo o processo foi redesenhado: foram criadas novas linhas de montagem, o fluxo de trabalho foi reorganizado e as fases de produção foram otimizadas. Em poucos anos, a fábrica de Portello era capaz de produzir até 200 automóveis por dia, quadruplicando a sua capacidade. Esta evolução quantitativa foi acompanhada por uma evolução cultural: A Alfa Romeo já não era apenas uma marca de elite, mas um líder na indústria automóvel europeia.

O Giulietta tornou-se parte do imaginário coletivo italiano e um ícone de estilo e progresso. Apareceu em filmes como “Opiate ’67”, de Dino Risi, ao lado de estrelas de cinema como Marcello Mastroianni, Sophia Loren e Vittorio Gassman. Em 1960, o exemplar número 100.001 foi celebrizado pela musa de Fellini, Giulietta Masina, solidificando ainda mais a ligação do automóvel à cultura italiana. Curiosamente, em mais um exemplo da sua importância técnica e simbólica, o Giulietta Berlina apareceu na primeira capa da revista “Quattroruote” em fevereiro de 1956.

O próprio nome “Giulietta” faz parte da sua lenda, com duas versões concorrentes que atestam a sua origem. Uma afirma que a ideia partiu de Madame De Cousandier, a esposa do poeta Leonardo Sinisgalli; enquanto a outra conta que um príncipe russo, durante um evento em Paris em 1950, dirigiu-se aos gestores da Alfa Romeo com uma piada: “Há oito Romeo entre vós e nem uma Giulietta?” Quatro anos mais tarde, foi apresentado o primeiro Giulietta Sprint, seguido de inúmeras outras versões ao longo dos anos, como a Berlina, o Spider desenhado por Pininfarina a pensar no mercado dos EUA (tal como o Sprint, disponível também na versão Veloce), o Sprint Speciale desenhado novamente por Bertone, e o Giulietta SZ de Zagato. Haveria mesmo uma station wagon denominada Promiscua. De 1954 a 1965, foram produzidos 177.690 Giulietta em todas as versões, incluindo cerca de 130.000 Berlina.

Em suma, uma performance sem precedentes, uma dinâmica de condução inspirada nas pistas e um design inconfundível não só fazem do Giulietta uma pedra angular da história da Alfa Romeo, como também o tornam num símbolo da identidade italiana, capaz de combinar tecnologia e poesia, velocidade e graça, sonho e realidade. E o seu legado seria transmitido ao igualmente lendário Giulia, que aperfeiçoou as caraterísticas do Giulietta em termos de performance e inovação e deu continuidade à tradição da Alfa Romeo de criar automóveis compactos para um segmento superior.

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