Opinião

O hábito da elegância

OPINIÃO | Angel Machado | 6 meses atrás em 25-05-2024

O período mais bonito da vida é quando estamos vivos e conseguimos pagar as contas. A única exigência comum a todos é ser educado. A educação está atrelada, também, às boas maneiras. Como se sentar à mesa, usar os talheres, comer de boca fechada sem emitir som, falar pouco e baixo, sorrir discretamente e manter a postura em qualquer situação. A elegância não é uma doutrina, mas uma forma de experimentar a vida com a delicadeza permitida pela evolução.

O hábito da elegância não é um privilégio, é uma condição das pessoas de coragem, embora, esta seja apenas uma forma de exprimir o desejo de ser alguém para os outros se inspirarem.

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O tempo é, assim, o resultado da pressa para fazer ou desfazer qualquer coisa que tenha ou não significado e que, às vezes, aparece para nos deixar expressar de maneira cordial e elegante. A pressa é o vácuo das nossas limitações como “gente”. A linguagem está a degenerar-se gradualmente com a insolência humana e a sua distopia rumo ao caos. Talvez estejamos mais empobrecidos pelo preconceito e coagidos pela ignorância, mas tudo fica mais fácil se pensarmos que somos “reles” mortais.  

Muitas pessoas, que eu conheço, vivem fartas de autoajuda nas redes sociais, lidam com a contingência do sexismo por serem mulheres, o julgamento gratuito, os mesmos palavrões na boca de crianças e adultos e, ainda, o fanatismo camuflado de “paixão”. Falta chão a muita gente, mas agora parece tarde para nos esquivarmos da loucura que tomou conta do mundo. 

Flanamos com a perceção de que todos já habitam o abismo; os elegantes são os loucos e os insensatos mantêm o mundo “caduco”, vivem inspirados, cada vez mais, pelo absurdo. Não há virtude ou elegância que possam estabelecer com a realidade – cada vez mais insólita -, só é preciso ligar a televisão ou ler a primeira página de um jornal. A probabilidade de a manchete ser “estamos em guerra” não constitui um sobressalto. Talvez a normalidade se tenha apropriado do que nos parece estranho, mas o que se estranha é que em tudo isto o mais inusitado seja não estranharmos que temos uma pedra no sapato que nos magoa e não nos deixa andar.   

OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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