Opinião

O filho do Capitão

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 23 minutos atrás em 15-02-2025

Creio que nada me impressionou tanto nos últimos (largos) tempos: a dignidade de Andrew Salgueiro Maia, filho não reconhecido do (meu) herói de Abril, demonstrada ao longo da impactante reportagem exibida na passada quinta-feira pela SIC.

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Quem pudesse estar à espera de ver um cidadão amargurado com uma justiça que tarda ou um filho revoltado com a memória de um pai que não o assumiu, deparou-se antes com um homem sereno, atravessando os labirintos da burocracia e os questionamentos do passado com uma calma que apenas se pode encontrar em que sabe, sem sombra de dúvida, quem é e de onde vem. Mesmo que não tendo um documento de identificação que o comprova.

Descontando as consequências individuais de um drama pessoal como este, há algo de poético na história contada.

Que a imagem do Capitão que foi decisivo para libertar o país da ditadura não merecia ser toldada por uma questão da esfera privada, esse é um facto que só os mal-intencionados ou os mal-resolvidos podem questionar – ou os ingénuos que acham que os heróis não têm o direito de serem imperfeitos. Mas, se ainda houvesse algum impulso para julgar Salgueiro Maia, a elevação do seu filho dissipa-o por completo.

A sua luta é travada sem raiva, sem pedidos de reparação histórica ou moral. Apenas um homem que quer ver reconhecido o que um teste de ADN já confirmou. Um homem que, ao contrário de tantos outros que se agarram a ressentimentos, decidiu viver com paz. Sem se resignar, mas com a consciência tranquila de quem sabe que a sua identidade não precisa de um tribunal para ser real.

A liberdade que celebramos todos os anos a 25 de Abril e que foi conquistada (também) por Salgueiro Maia tem uma dimensão particularmente nobre que Andrew nos recorda: podemos ser donos do nosso próprio destino se não esquecermos o passado, mas não nos deixarmos prender nele. E há um heroísmo silencioso na sua postura que – tal como o seu sorriso ou o seu olhar – é absolutamente semelhante ao que conhecemos no seu pai. E isso, aos meus olhos, é um belo tributo.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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