Opinião
Novembristas!
Vai bem não, como se diz na minha Beira Baixa, o país inquieta-se com altercações, temperadas com o politicamente correto e, calhando, deixamos de pensar. Ou raciocinamos com o que nos dá mais jeito.
Ora eu, gasto de velho, tive um tempo em que voei nos helicópteros para apagar fogos. Foi lá que ouvi a história do piloto que fugiu com Spínola para Espanha.
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Aliás, num artigo de 27 de Abril de 2014, assinado pelo Manuel Carvalho, ela é bem esgaçada.
Godinho, oficial da Força Aérea que tripulou o helicóptero que levou Spínola de Tancos para Espanha a 11 de Março de 1975, viria a tornar-se piloto civil. A história é conhecida.
Sucede que, nesse 11 de Março se preparava um golpe da Direita radical.
É aqui, neste 11 de Março que se dá uma tentativa de golpe de Estado, dirigida por António de Spínola. Antes houvera a manifestação da “maioria silenciosa”, a falange que não teve sucesso e que deu origem ao despotismo das nacionalizações, saneamentos e demais abusos de uma Esquerda, também ela, radical.
Já antes, em 1974 e 5 meses depois de Abril, o Movimento das Forças Armadas travara o general, numa primeira tentativa de quebrar um país que se inclinava para uma social-democracia, defendida por muitos, com a oposição do processo revolucionário.
Portugal radicaliza-se à esquerda, quem lutou durante a ditadura, desatou a nacionalizar e a gastar o ouro que havia, levando-nos à falência.
Também houve progressos sociais, mas se houve 25 de Novembro foi para apagar chancela que os militares, não todos é certo, atearam.
Dito isto, espanta-me que o Parlamento aprove uma sessão solene do 25 de Novembro no Parlamento, nos exactos moldes da cerimónia do 25 de Abril.
Comparar as duas datas é clivar o país, que tem estado a ferro e fogo porque tantos confundem liberdade com libertinagem.
Desvalorizar o 25 de Abril é ter medo da Democracia e, por isso, pagamos, com língua de palmo, o despautério.
Ver autocarros a arder, pessoas ameaçadas no seu viver, uma gasolineira que não explodiu por acaso e outros desmandos, mostra bem que não percebemos Abril.
O Estado tem de ter autoridade. Que venha a lei, e agora temos um procurador muito falador, que nada seja branqueado e que se punam responsáveis.
Condenar, uns ou outros, no turbilhão do imediatismo, é insensatez, toleima para quem a ordem é coisa de déspotas, ou de ditaduras.
É isto que faz de nós uma Democracia, não porque é politicamente correto defender os mais discriminados, infelizmente ainda é necessário, mas porque apuramos e julgamos os prevaricadores. O primado da Lei.
Esta deriva que se prepara e se sente do autoritarismo, do populismo, do fechar as portas na fronteira, vem tudo daí, desse medo que, de sobressalto, nos apareceu e nos impede de pensar.
Caramba, não nos podemos recusar a pensar, a manter o respeito por nós próprios enquanto país milenar, entrincheirados, os bons contra os maus, elogios de mortes, sombras em desígnios ocultos.
Nem no destrato aos militares, a quem tanto devemos. E não só aos Comandos de Jaime Neves.
Sentir o internúncio, vezes de núncio onde o não há, que é a Democracia que ganha com o 25 de Novembro é mais um sinal da desagregação e dos que deixámos para trás.
Que as celebrações tenham sido decididas a 25 de Setembro, é mais uma sintoma desta Nação de feudos, como o que surge agora, contra o direito à assimilação.
Diz a Constituição da República Portuguesa que “ninguém pode ser discriminado em função do país de origem, da língua, religião, sexo ou etnia”. E diz bem.
Mas tomar como postura neocolonial, políticas de assimilação, que mais não são do que integrar quem demanda o país, e de quem precisamos, é outro traço desse fosso que, alegremente vamos cavando entre nós.
É como pedir a jornalistas que não vão ali informar, porque é perigoso. Mas também já estamos nessa cércea? Não é também Direito Constitucional?
Não podemos, de todo, ter medo de opinar, com receio de rótulos ou acusações tolas e alarves.
Temos a nossa origem como povo, de raízes consolidadas, falta-nos exigir esse Portugal moderno e cosmopolita que não será concretizado com falsos paralelismos que são, tão só, ridículas emoções paroquiais, ou, como registou Drummond, “nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não!”.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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