Opinião

Novembristas!

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 4 meses atrás em 15-06-2024

A primeira vez que levantei voo, foi em 1990, a bordo de um Allouette III. Desde então tenho andando sempre com a cabeça nas nuvens, seja de helicóptero, balão, jato ou turbo hélice, biplano ou monomotor, incluindo asa delta.

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Foi assim que, creio, ter conhecido o comandante Mira Godinho, que, à época, pilotava helicópteros ao serviço da defesa civil, depois de anos a servir, com brio, as Forças Armadas.

Na altura, tal como hoje, lia tudo sobre a guerra de África, mas isso agora não interessada nada. Certo é que Mira Godinho, a 10 de Março de 1975 aparece entre os militares convocados pelo general António de Spínola, insuspeitos de esquerdismo.

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O golpe de Spínola ficou irremediavelmente perdido. De Tancos abalam quatro helicópteros, um deles pilotado por Mira Godinho e outro armado, com destino à base de Talavera La Real, nos arredores de Badajoz.

Foi uma evasão, depois da falhada tentativa de golpe de Estado, do antigo Presidente da República, ligado aos setores da direita, entretanto radicalizado, esquecido “Portugal e o futuro”.

Os 22 anos que levo de estudos, sem contar com estes dois novos semestres para aprender a programar, recordam-me Hegel, a história dialética que compreende o nexo entre os acontecimentos particulares e a relação destes com o contexto universal. 

Ora, andam aí umas moças e uns rapazes, desmemoriadas e mal barbeados, que se encabeçam nas falanges para nos aprimorar o 25 de novembro, sem o qual não haveria democracia, pelo que “é tão importante celebrar o 25 de Abril, como é celebrar o 25 de Novembro”.

Uns querem feriado, outros sessão solene, enquanto o núncio deixou a representação diplomática para entrar no coro de igreja.

Isto de respeitar a vontade do povo português, tem, pois, muito que se lhe diga. Entrementes vão reforçar o ensino, para cultivar ignorantes, suspender as restrições ao uso da água num país que não constrói barragens e açudes e, leio nas entrelinhas, endurece o discurso militarista, sob a capa das lideranças que descem impostos a quem mais recebe, acabando com a progressividade fiscal, outra marca democrática.

Também não viajam, quando não teriam olhado a França onde a contrarreação está em marcha, numa ofensiva da decência que promete resolver os dramas sociais, alterações climáticas, renovação dos serviços públicos e leis para abolir os privilégios milionários.

Enquanto minha mulher não me traz camisa castanha que mandei abotoar, há quem queira, nesta República e democracia parlamentar, fomentar jurisprudência, que delimite o poder do Parlamento. Oi?

E quem fale de liderança musculada, enquanto olvidam, tal como fizeram a Eduardo Salgueiro, “O editor esquecido”, livro novo que, curiosamente traz um pormenor sobre pecúlios. Discussão entre José Régio e Salgueiro que foi ultrapassada.

Já os nossos novembristas, julgam que é erro histórico separar os vinte cinco, de Abril e de Novembro. O 11 de Março não lhes convém, que foi onde tudo começou e que tem isqueiro conhecido.

Eanes, cuja irmã foi minha professora primária, souber defender-nos. Soares, presidente filantropo, soube perdoar. Outros querem revanchismo.

Na obra “Filosofia da história” Hegel mostra vínculo que existe entre os acontecimentos ao longo do tempo. O que alguns, teimosamente, não querem ver.

Assim, como também tenho direito ao disparate, proponho que seja feriado nos dias 11 de Março, 25 de abril e 25 de Novembro.

Para acabar com os saudosistas e fincar pés nas coisas como elas foram. E proteger o regime parlamentar.

OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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