Opinião
Noites de Budapeste
É o reviralho, a revolta, o levantamento do rancho, amotinação, insubordinação completa. Vou ali esconder-me na garagem e já volto! Que não, não posso, missa merece ordenação e aquela corporação está como as ruas de Coimbra. Esventradas, vem aí o Metrobus e, de caminho, a ler pelos jornais, a república por procuração.
Uma carta, que tendo os correios que temos, rapidamente foi entregue a Garcia. Talvez um telegrama, querendo mandar nisto tudo sem prestar contas.
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Para quem é velho, como eu, e se lembra do episódio na fila do multibanco, em Coimbra, a coisa promete.
Há que contestar os políticos, o voto do eleitor, stricto sensu, a Democracia.
A altercação do caldo institucional e soberanista desta coutada a que chamamos Portugal, e vesti fardas suficientes para não aceitar acusações de falta de patriotismo, está em curso.
Primeiro a televisão, depois o Parlamento. A doutrina até já diz que não precisamos de orçamento e convém não dissolver, temos demasiado dissolvente nas urnas.
Nisto, problemas concretos, as associações de imigrantes ameaçam protestar porque o pai do doutor Nuno não os recebe.
De caminho, a Comunidade Israelita do Porto acusou o novo presidente do Conselho Europeu de ter uma “história de animosidade contra os judeus e a comunidade judaica”, como se confundíssemos religião com a conduta ordeira que um Estado de Direito deve ter.
Ou como, e bem, sublinhou Sousa Tavares na perda dessa marca da moralidade, à conta do Próximo Oriente.
Como se Kiev fosse diferente de Gaza, ou se houvesse cheque em branco para trucidar e aplicar solução.
Parece que o problema está nas extremas, e no meu tempo, contavam os jornais, matavam-se os vizinhos quando não se acordavam os marcos.
Perante isto, este quadro insurrecional, que pode fazer um homem, reles, mas de bem?
Subir à Lousã, pedir meças à Casa Redondo e fazer um Safari pelo portefólio.
Capital próprio para comprar negócio, sem telegrama, feito com manga e, entre outros, mamão. Quase a fazer lembrar a aldeia do Meimão, onde havia padre capaz de esconjurar a coutada.
Álcool muito, que lá fora isto também não vai bem. Os comunistas, perdão, extremistas, de Budapeste comandam, por seis meses, a presidência do Conselho da União Europeia e toca a viajar. Destinos exóticos, como o meu Safari.
Kiev, Moscovo e Pequim. Estão, por procuração, a alienar os nossos valores, enquanto na cozinha da corporação se mantém o capitão ao leme, a fritar em lume brando. Encomenda da invicta? Não, o poder de sermos arrestados, que não somos músicos, nem estamos orquestrados.
Na democracia prestam-se contas, tal não é espalhafato. Entretidos a “descolonizar” o património cultural, afastamos contexto e decência. Funcionalizamos o pelourinho, muito pacote e nenhuns custos. Alguém irá pagar. Por certo o justo pelo pecador, é assim na homilia.
Mas ele há que aprender, ler, e na Universidade de Coimbra já há oficina de conservação e restauro de livros. O de 1976, revisto em 1982 e sucessivas edições, algumas adiadas. E bem necessárias. Para substituir esta cascata de cartas, arremessadas ao espaço público.
É a luxúria e vem-me à memória, canção e cidade do Adolfo: “Cá vou eu no meu Traby, de bar em bar a aviar, charro aqui charro ali, mais um vodka p’ra atestar. São só bandas a tocar, pondo tudo em alvoroço”.
OPINIÃO I AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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