Opinião
New Year’s Resolution
Eu nem sou destas coisas, mas desta vez resolvi fazer uma resolução para o novo ano: vou melhorar o meu inglês.
Ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, em que assumi a quota de cínico pouco crente em promessas de réveillon, decidi estabelecer um compromisso para o meu desenvolvimento pessoal, a concretizar em 2024.
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Nunca fui usuário desta tradição, segundo a qual a inspiração do novo ano, a promessa do amanhã, leva bestas do ano passado a tornarem-se bestiais do ano seguinte. Um milagre digno da Cinderela, que não só transforma abóboras em carroças como converte pecadores em virtuosos, num ato certeiro que nos liberta do mal do passado logo após o apito inicial do dia 1 de janeiro.
Enquanto sacerdote da Igreja Universal do Ceticismo – uma instituição de má fama, julgada pelos otimistas e sonhadores, mas com a virtude inestimável de não evangelizar novos fiéis ou molestar crianças na catequese – , nunca me incluí na lista de pessoas que, chegado o Ano Novo, distribuem promessas transformadoras, que normalmente se situam em deixar de fumar, começar a comer melhor, estar mais com a família ou, claro, fazer voluntariado.
Sendo um iniciante nestas lides, talvez seja melhor começar por um empreendimento mais modesto. Algo que não exija largar os enchidos ou o Marlboro, mas que também não seja tão fútil como aprender a jogar ping-pong com a mão esquerda ou a cantar o hino nacional com sotaque açoriano.
Por isso, e empurrado pelas circunstâncias, optei por este compromisso de aperfeiçoar o meu inglês. Não que o meu inglês seja indigente. É, aliás, suficientemente desenvolvido para que eu possa viajar sem constrangimentos de comunicação ou mesmo para que me possa adjectivar como “fluente” em qualquer curriculum vitae.
Porém, o meu inglês passa mal quando longamente exposto a pessoas que dominam completamente a língua. Resiste nas primeiras duas horas, mas, gradualmente, o léxico comprime-se até à derradeira implosão em que revela todas as suas debilidades.
Para meu infortúnio, ao longo dos anos, alguns dos meus amigos mais próximos que vivem emigrados – gente pessimista que não acredita na robustez e diversidade das oportunidades de trabalho em Portugal – sucumbiram aos encantos de mulheres estrangeiras. Assim, gradualmente, tenho-me visto obrigado a testar o meu inglês ao limite, sob pena de ser qualificado como o amigo tímido ou mal encarado que não interage com as namoradas dos amigos.
Todos perdem. Eu, por maioria de razão, que me vejo exposto e fracassado, qual aluno medíocre da British Council; os meus amigos, que se veem privados da minha erudição e eloquência só absolutamente perceptíveis quando transmitidas na língua de Camões; e, claro, as suas namoradas, que têm de empenhar grandes esforços para disfarçar o desdém pela minha inabilidade no manuseamento da língua inglesa.
It’s a shame.
P.S.: Claire, if you’re reading this, I hope you can excuse my poor English for the next few days. But, please, could you also make a New Year’s Resolution and try to learn a
little bit of portuguese? Next year would be so much easier for me…
Opinião | Bernardo Neto Parra
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