Opinião
Nasceu o homem que viverá 150 anos
Hoje no Japão nasceu o homem que viverá 150 anos. Foi a manchete que li no New York Times e, provavelmente, alguém pensou que viver tanto tempo é possível, sem problemas genéticos de saúde ou eventuais complicações de ordem imprevisível. Falam de um ser humano comum, gerado por uma mulher, mas, que no laboratório foram traçados o curso e o plano de vida para que esse sesquicentenário valha a pena.
O mundo até lá terá descendentes, e a partir desse século será possível viver mais de cem anos com um vigor jamais visto. O pensamento que escapa à lógica, será um sobrevivente de si mesmo, um ancião honorário, forte e indestrutível como os robôs.
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Atualmente não nos espantamos com nada, até o que antes consideraríamos bizarro, hoje, é normal.
Vivemos a era do impossível sem ter provado o sabor da longevidade. O homem reinventou um estilo de vida que a medicina estará apta a atender sem complexidade. Porque o modelo já terá sido comprovado, a não ser que haja uma contingência não calculada.
É um alento ter consciência de que todos são falíveis, até mesmo um génio de conduta ilibada. Sabemos, também, que não é preciso passar tanto tempo para acreditarmos em certas coisas. A realidade é a prova disso. Somos convencidos de que a água que sai da torneira é potável e que a Justiça é cega. Contudo, podemos ganhar dinheiro com as nossas angústias nas redes sociais, alimentar os nossos pecados e os dos outros com a bandeira do livre arbítrio.
Investigam o cérebro, as emoções e agora, a necessidade de aprovação de um like. Mesmo que eu tente imaginar a vida nesse futuro longínquo, estará aquém do que planearam. Serei visto como um antepassado arcaico, uma figura triste com comportamentos estranhos, vítima, algoz e com potencial de autodestruição, porque na História, o trágico estará relacionado com o homem e o poder.
Para se viver bem não há margem para o erro, e independentemente do tempo de vida que tenhamos é bom sabermos que o ceticismo sempre fez parte da nossa cartilha. Ninguém é bom o suficiente para amar o desconhecido sem ter provado o sabor do bem e do mal. Ninguém pode prever que o amor resistirá ao futuro sem mácula, mesmo se alguém disser que é proibido. O “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, terá sempre uma nova edição, porque o devir é ele próprio uma narrativa de insatisfação.
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