Com pouca oferta de comboios, avarias constantes nas composições e a recente redução nos horários, a centenária Linha do Oeste continua a perder passageiros desde há décadas e concorre cada vez menos com o transporte rodoviário.
Ruben Santos é um dos mil passageiros que se deslocam todos os dias de Torres Vedras para Lisboa nos autocarros da empresa Barraqueiro Oeste, porque, explica à agência Lusa, nos comboios da Linha do Oeste “faltam horários” e as “viagens são mais demoradas” e “não são diretas” a Lisboa.
No terminal rodoviário, Ruben encontra autocarros da empresa Barraqueiro Oeste a saírem a intervalos entre os 10 e os 15 minutos, diretos ao Campo Grande, em Lisboa, onde chegam 40 minutos depois, por 6,25 euros.
A oferta é ainda complementada pela Rede de Expressos, com cinco horários durante a manhã, autocarros diretos a Sete Rios, em Lisboa, e a viagem a durar 45 minutos e a custar seis euros.
Na Linha do Oeste, tem apenas dois comboios durante a manhã, mas só o primeiro, das 06:15, segue para as estações de Sete Rios ou Entrecampos, em Lisboa, depois de passar em Meleças e Cacém, em Sintra. A viagem demora em média entre 01:20 e 01:30 e custa 5,65 ou 5,80. Com mudança de comboio em Sintra, a viagem chega às duas horas.
Já Maria de Jesus Ribeiro, de Caldas da Rainha, prefere o comboio para se deslocar todos os dias para trabalhar em Martinho do Porto, Alcobaça, mas, em declarações à Lusa, queixa-se da degradação do serviço, o que a obriga a viajar no autocarro da Rodoviária do Oeste.
“Sempre andei de comboio da Linha do Oeste. Como precisava de ir trabalhar para São Martinho, passei a comprar passe, que me custava 38 euros por mês. A viagem de comboio era 10 minutos de Caldas a São Martinho ou vice-versa. Depois começou a haver supressões e muitos atrasos nos comboios e perdia horas à espera. Como o comboio das 17:30 foi suprimido, tive de optar pela rodoviária e estou a gastar mensalmente 61,50 e demoro meia hora”, compara.
Fátima Santos utiliza uma vez por semana o comboio entre Torres Vedras e São Martinho do Porto, onde costuma passar os dias de folga. Com a redução de horários, tem de regressar de autocarro para Torres Vedras.
Às queixas, Anselmo Silva, de Lisboa, junta o mau estado das composições, todas pintadas com ‘graffiti’, o que considera “indigno”.
“Os passageiros não conseguem ver para fora do comboio e são transportados como gado”, acrescenta.
A Comissão de Utentes da Linha do Oeste vai “insistir para que seja possível alterar horários já a partir de setembro, dado que muitas pessoas regressam de férias e há o início das aulas”, de modo a ajustá-los às necessidades dos utentes, afirmou à agência Lusa Rui Pinheiro, utilizador e membro da comissão.
“Era importante que existissem mais serviços e mais horários não só para os estudantes, como também para quem trabalha diariamente. Caso contrário, as pessoas deixam de utilizar o comboio e vão à procura de alternativas”, refere.
Desde 05 de agosto, entraram em vigor novos horários, com a redução do número de comboios diários, uma forma de, segundo a comissão, minimizar as avarias e as supressões de comboios que havia com mais frequência antes dessa data.
Ainda assim, na passada quarta-feira, por exemplo, cinco comboios foram suprimidos porque uma composição avariou, de acordo com a comissão.