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Museu Machado de Castro em Coimbra lança exposição com “fantasmas” da sua reserva
O Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, lança na sexta-feira uma exposição que se debruça sobre 70 peças das suas reservas, “fantasmas” que vagueavam pelo espaço sem leitura nem contextualização.
A exposição temporária “Resgatar a Ordem – Iconografias [s]em reserva[s]” é inaugurada na sexta-feira e assume-se como um primeiro olhar do museu em torno de várias peças das suas reservas, nunca antes expostas, atribuindo-lhes uma história que estava por contar, disse à agência Lusa a diretora do Museu Nacional Machado de Castro (MNMC), Lurdes Craveiro.
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“São todas peças de contexto religioso, de várias casas das várias ordens religiosas, que são parte do museu, mas que vagueavam como fantasmas nas reservas do museu, sem leitura nem contextualização”, notou a responsável.
A exposição surge numa campanha de conservação preventiva que se iniciou em 2021 e que pôs o museu a dar visibilidade a “um trabalho que ocorre nos bastidores”, procurando descobrir a proveniência e a história destas peças, muitas delas sem qualquer contextualização e com origem desconhecida, explicou.
“Neste momento, podemos dizer que já avançámos mais uma etapa no conhecimento deste acervo, que agora se encontra em condições diferentes de leitura e interpretação”, realçou, referindo que foi possível apurar informação sobre a grande maioria das 70 peças que serão expostas e que, até agora, “vagueavam na sombra do desconhecimento”.
Agora, é possível “saber de onde vêm, em que altar figuravam, que devoções estimulavam perante os fiéis”, constatou, realçando a importância da ligação do MNMC à investigação, neste caso à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que contou com o comissariado científico da docente Sandra Saldanha nesta exposição.
“Este é um ponto de partida de um estudo empenhado sobre um acervo que pairava aqui desconhecido”, vincou Lurdes Craveiro.
Sandra Saldanha realçou que, ao contrário de outras exposições em que o tema acaba por condicionar as peças que são escolhidas, neste caso a narrativa “nasceu das peças que existiam”.
As 70 peças expostas, a maioria pintura e esculturas de madeira, vêm, sobretudo, de capelas, mosteiros e conventos da região de Coimbra, que ajudam a falar do papel e do impacto das ordens religiosas em Portugal.
Ao longo do tempo em que a exposição estiver patente (até 19 de junho) também serão apresentados “resultados da investigação” realizada em torno das reservas do museu, notou Sandra Saldanha, destacando o facto de este ser património “nunca estudado e menos exposto e conhecido dos investigadores”.
“É muito interessante esta articulação entre o Museu Nacional Machado de Castro e a Universidade de Coimbra, que dá esta oportunidade única de se ver um conjunto de peças que nunca foi visto antes”, realçou.
O trabalho de conservação tem sido feito em parceria com o Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património (CEARTE), face à ausência de qualquer técnico de restauro e conservação nos quadros do MNMC, referiu Lurdes Craveiro.
“Não é uma situação adequada para as necessidades do museu”, apontou, referindo que foi aberto um concurso de mobilidade interna, mas que ficou vazio, defendendo a abertura de um concurso externo para contratar um técnico especializado.
Para Lurdes Craveiro, essa é “a maior fragilidade” do museu, neste momento.
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