Opinião
Milagres
A vida, muitas vezes, é incompreensível, mas eficaz na hora de promover milagres. Quem não está a precisar de um milagre? É nestes momentos de dúvida existencial, que recorro ao artifício das citações: “a coragem consiste em fazer o que não se atreve”, Eddie Rickenbacker.
Estamos todos condenados ao caos neste ambiente hostil que está a tirar o senso e o sono. Mesmo assim, persiste a euforia infantil que vê graça no cimento polido ou numa folha de plátano a dançar em dias de ventania. Quem vê a vida no cotidiano sabe quais são os destinos possíveis ou inevitáveis. Há um futuro que a todos pertence.
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Nestes momentos penso que não devo escrever. Mas é a escrita que põe ordem neste caos.
E ao fazê-lo, sei que me arrumo perante o mundo e, às vezes, consigo desatar alguns nós. Invento umas estórias de amor para tornar a conversa mais fácil com os leitores – tudo o que precisamos neste tempo de guerras transversais. Quando parece não haver espaço para o amor, essa incredulidade tira a razão a um escritor.
Os olhos perturbados sabem como são os dias sem inspiração. Agarro-me à paisagem, aos folhetos colados aos postes e às conversas de estranhos nos cafés. É interessante ouvir o que os outros dizem, principalmente, quando eles não enxergam além da sua existência, do ciclo normal dos dias e das noites.
A alegria das palavras evita que os meus olhos não mintam, embora saibamos que muitas das realidades construídas sejam uma combinação de acasos, que dão sentido às interrogações. Enquanto os milagres não chegam, a conversa, ainda, é uma alternativa à solidão.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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