Saúde
Milagre: Terapia revoluciona e cura metade dos pacientes com cancro do sangue

Imagem: Depositphotos.com
Há apenas uma década, algo semelhante parecia inimaginável: mais de metade dos 502 pacientes tratados com uma terapia inovadora tiveram uma remissão total do cancro do sangue. Não se trata de um sonho ou de uma promessa distante, mas de uma realidade concreta que nasce da investigação biomédica catalã, com o nome de terapias CAR-T.
Esta imunoterapia celular personalizada, que utiliza as células do próprio paciente para atacar as células cancerígenas, tem revelado resultados extraordinários. A técnica, que começou como um projeto pioneiro em 2017 no Clínic-IDIBAPS, tornou-se agora um programa consolidado, ampliando seu alcance e tratando mais de uma centena de doentes só no último ano.
Os números são impressionantes: em casos de leucemia linfoblástica aguda, 90% dos pacientes entraram em remissão total; no mieloma múltiplo, a taxa é de 60%; e no linfoma não-Hodgkin, chega a 50%. O mais notável é que muitos destes pacientes já tinham esgotado os tratamentos convencionais, com quimioterapias falhadas e ensaios sem sucesso, descreve a National Geographic.
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As terapias CAR-T são resultado de décadas de investigação na área da imunologia e biotecnologia, com o objetivo de transformar o sistema imunitário em uma máquina cirúrgica capaz de identificar e destruir células cancerígenas. A sigla CAR-T significa “Chimeric Antigen Receptor T-cell”, ou seja, linfócitos T geneticamente modificados para transportar um receptor artificial que os permite identificar com precisão proteínas presentes nas células malignas.
O processo começa com a recolha dos linfócitos T do próprio paciente através de uma técnica chamada aférese. Estas células são depois modificadas em laboratório para expressar um receptor quimérico que as torna capazes de identificar marcadores específicos nas células tumorais. Uma vez reprogramadas, as células CAR-T são multiplicadas em grande número e reinfundidas no paciente, onde passam a atacar e destruir as células cancerígenas de forma altamente eficaz e específica.
O sucesso das terapias CAR-T não se deve apenas ao conhecimento técnico, mas também à colaboração em rede que uniu vários actores chave. Desde a Fundação “la Caixa”, cujo apoio financeiro foi crucial para impulsionar a Unidade de Investigação em Imunoterapia CaixaResearch, até o Instituto de Saúde Carlos III, e, claro, a equipa de profissionais que diariamente trabalham com precisão nas “salas limpas”, onde as células do paciente são manipuladas num ambiente controlado e asséptico.
A descentralização dos tratamentos tem sido um dos grandes desafios, mas a criação de uma rede que já envolve 13 hospitais em Espanha visa reduzir os tempos de espera e aproximar estes tratamentos da população. O objetivo é garantir que mais pacientes tenham acesso a terapias de precisão, de forma rápida e eficaz, algo que antes estava restrito a grandes centros internacionais, como os dos Estados Unidos.
A Clínica não só produz as terapias CAR-T, como também lidera ensaios clínicos inovadores. Entre os projetos em curso estão o ARI-0003, para linfomas, e os próximos tratamentos CAR-T HER2 para cancro da mama, além de ARI-007 para leucemia linfoblástica T aguda. O futuro está em construção, com o objetivo de melhorar a eficácia dos tratamentos, reduzir os tempos de espera e expandir as terapias para outros tipos de tumores.
O mais emocionante é que, longe de ser o fim, este avanço representa apenas o começo de uma nova era no tratamento do cancro.
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