O presidente da Comissão de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente criticou hoje o discurso “populista” sobre saúde e a falta de literacia de políticos, defendendo que o SNS responde de forma adequada consoante a complexidade das situações.
Na campanha para as eleições legislativas de 18 de maio, a saúde tem sido um dos temas mais debatidos, com críticas e propostas, principalmente nas questões relacionadas como o fecho das urgências, as listas de espera, a falta de médicos de família, as condições nos hospitais e a gestão do Serviço Nacional de Saúde.
Sobre como observa estas críticas, o presidente da comissão, Alberto Caldas Afonso, afirmou que “as pessoas falam daquilo que não sabem”.
PUBLICIDADE
“Tenho muita pena da falta de literacia em saúde dos senhores políticos. Está a dar-se uma resposta adequada, de qualidade, de acordo com a situação clínica”, disse o pediatra.
Caldas Afonso elucidou que, se todos os têm um problema de doença aguda “forem entupir uma urgência hospitalar, a capacidade de resposta vai estar muito limitada na qualidade e no tempo e vai pôr em causa as situações que a qualidade e o tempo não podem esperar”.
“Trabalhei num dos maiores hospitais de pediatria durante 10 anos, em Paris. Na urgência de pediatria (…) tinha 10 ou 12 crianças por dia. Aqui, qualquer hospital, por mais pequeno que seja, tem 100, 150”, enfatizou.
Mas, adiantou, o modelo adotado para retirar os casos não urgentes dos serviços de urgência, que obriga a ligar antes para a Linha SNS 24 (808242424) está a ter “um sucesso brutal”.
“As crianças são atendidas nas situações mais ou menos urgentes, em tempo célere, com qualidade” e os casos não urgentes “são atendidos nos locais apropriados, nos cuidados de saúde primários ou na consulta aberta do hospital. Portanto, mudou claramente a qualidade da assistência. As pessoas deixaram de esperar 6, 7, 8, 9 horas”, realçou.
Também qualquer grávida que ligue para o SNS 24 recebe “uma orientação segura do local apropriado e mais ajustado à sua situação”, não tendo que andar a perder tempo.
Por outro lado, deixou-se de se observar no inverno, no pico das infeções respiratórias, “as filas de quilómetros de ambulâncias paradas à frente dos serviços de urgência”.
“Isto é que é preciso dizer, mas ninguém diz. E fala-se de uma maneira populista, toda a gente fala de saúde, é como falar de futebol. Todos são treinadores de bancada”, mas sem olhar para “aquilo que é a proteção das pessoas”, salientou o médico, que preside a comissão encarregada de reorganizar as urgências de ginecologia/obstetrícia e pediatria.
No seu entender, é de “uma leviandade total” a forma como políticos que “querem ser primeiro-ministro” comentam as medidas tomadas para melhorar a resposta do SNS.
Observou que a Dinamarca está a fazer uma reforma idêntica à que está a ser feita no SNS.
“Viu que é um modelo que faz todo sentido, de acordo com o estado de arte atual. E é impressionante, nós dizemos mal daquilo que temos, quando desconhecemos que somos dos melhores no mundo na área maternoinfantil”, realçou.
Apesar de a resposta do SNS já ter “melhorado muito”, Caldas Afonso reconheceu que “as dificuldades são muitas por falta de recursos humanos”.
“Se fosse uma fábrica de fazer pregos, em que eu aumentava a capacidade de produção e já tinha mais pregos, estava tudo bem. Infelizmente, não é. Um obstetra, um ginecologista demora 15 anos a formar para ter o mínimo de qualidade”, salientou.
Por mais que “se maximize a formação, neste momento”, não se consegue superar o número de especialistas que estão a sair por reforma.
“Portanto, é preciso medidas de fundo, com coragem, para as fazer. Mas, acima de tudo, temos que oferecer às grávidas, aos recém-nascidos, aquilo que nos colocou entre os quatro a cinco melhores serviços de saúde a nível mundial. Isso é que não queremos e não podemos perder”.
PUBLICIDADE