Economia

Marisa Matias diz que a troika cozinha, os governos aceitam as ordens e os cidadãos ficam de fora

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 05-11-2013

“A troika cozinha, os governos aceitam as ordens e os cidadãos ficam de fora de qualquer um dos processos”, afirmou hoje a Deputada Marisa Matias, durante a audição organizada pela Comissão de Assuntos Económicos e Monetários, para avaliação das intervenções nos países em crise, referindo-se à falta de democracia nos chamados programas de ajustamento.

“À medida que se vão esgotando os prazos de intervenção da troika nos diferentes países torna-se cada vez mais claro que não só a austeridade é um fracasso total, como se torna cada vez mais claro que não vai resultar com esta receita”, continuou a deputada do Bloco de Esquerda. E perante os indicadores trazidos pelos oradores, Klaus Masuch (BCE) e Servaas Deroose (Comissão Europeia), Marisa Matias contrapôs com os números resultantes da aplicação do programa de ajustamento em Portugal, referindo a quebra do PIB em 6%, os mais 300.000 desempregados, as mais de 350 pessoas que abandonam diariamente o país para procurar emprego.

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“Comparado com as previsões da troika, todos os meteorologistas do mundo estão absolvidos, porque as previsões meteorológicas são muito mais fiáveis do que as troika” continuou a deputada

Se dúvidas houvesse sobre a intenção destes programas, bastaria ouvir a intervenção do representante da Comissão Europeia, Servaas Deroose, para saber que “o programa da troika não é para cumprir metas mas para aproveitar a crise como pretexto para entregar ao sector financeiro aquilo que é o património público e o dinheiro dos trabalhadores e dos pensionistas, e disse-o quando afirmou que se tratava de «transferir de um sector público muito pesado para um sector privado»”, continuou Marisa Matias, que terminou a sua intervenção confrontando-o com a questão: “quando é que vai admitir [de forma directa] que o programa da troika não é cumprir as metas mas fazer o ajustamento ideológico na sociedade europeia.”

Servaas Deroose, que é actualmente o chefe de missão da Comissão Europeia no programa de intervenção em Espanha, sobre a ausência do FMI desta conferência respondeu que “têm que perguntar ao FMI, ao que sei as audições públicas não estão incluídas nas regras do FMI”. Sobre o mandato da troika, respondeu que a troika age em cumprimento do mandato que tem dos Estados Membros e do Eurogrupo, “todos os governos estão envolvidos nas decisões que tomamos” referindo ainda que “a troika tem flexibilidade e isso tem-se visto com Portugal, o governo traz propostas que são incorporadas.”. E face à acusação de destruição do estado social, afirmou: “a troika tem muitas medidas sociais, uma delas é na prestação dos cuidados de saúde que estão a ser melhorados nos países sob intervenção.”

À saída da conferência, Marisa Matias concluiu: “se é de avaliação que estamos a falar, a conclusão é simples: toda esta destruição não serviu para nada. A dívida continua a subir. Ainda hoje tivemos notícia da triste intervenção de Nuno Crato que assumiu que a dívida era impagável, ao afirmar que só poderíamos pagar a dívida se todos os portugueses trabalhassem um ano sem comer. Ainda hoje a Comissão disse que sem medidas extraordinárias o défice português continuaria a aumentar. Nenhuma meta foi cumprida. Os dados mostram-nos um falhanço retumbante. Desde as medidas até ao exemplo. Jurgen Kroger que chefiou a missão da troika em Portugal reformou-se aos 61 anos depois de ter feito o seu papel em Portugal, em conivência com o governo, de aumentar a idade de reforma para os 66 anos. E estes senhores que todos os dias destroem mais um pouco do estado social, ainda dizem, orgulhosos com a sua obra, que o estão a melhorar.”

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