Política
Marcelo Rebelo de Sousa atribui Ordem da Liberdade ao “homem grande” Amílcar Cabral
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, atribuiu hoje a Ordem da Liberdade a Amílcar Cabral, líder histórico da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, “homem grande” que não “chegou a chefe de Estado por uns meses”.
“Como esperar um dia mais para prestar uma homenagem por tanto tempo adiada”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa, ao intervir hoje, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, na outorga do grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral (1924-1973) pela Universidade do Mindelo.
“Apesar de ter sido um pioneiro, e de entre os pioneiros porventura o mais conhecido a nível universal por aquilo que era, por aquilo que simbolizava, por aquilo que simboliza hoje e simbolizará amanhã: O ‘homem grande’ Amílcar Cabral”, disse ainda o chefe de Estado, ao anunciar a entrega à família do Grande Colar da Ordem da Liberdade “em nome de Portugal”.
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Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que Portugal se junta a “este instante tão rico de futuro” e declarou que todos os seus antecessores, António Ramalho Eannes, Mário Soares, António Sampaio, Aníbal Cavaco Silva, haviam prestado por diversas vezes “o tributo ao `homem grande´” e condecorado os “chefes de Estado das pátrias nascidas das lutas dos anos 60 e 70” mas, assinalou, “faltava condecorar quem não chegou a chefe de Estado por uns meses”.
A Universidade do Mindelo, ilha cabo-verdiana de São Vicente, atribuiu hoje o grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral, cerimónia na qual participaram os chefes de Estado de Cabo Verde e de Portugal, José Maria Neves e Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC) e ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires.
“Poderia ser em qualquer parte do mundo, tal como a paz, a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a tolerância, o diálogo que o fizeram grande entre os grandes. Mas tinha de ser aqui, no Mindelo, pela mão de uma universidade, por natureza universal e portadora dos seus valores, em encontro de Universitários”, afirmou Marcelo Rebelo.
“Um, o novo doutor Honoris Causa desta casa, tendo a abraçá-lo outro universitário com mais de meio século de escola. Um, cabo verdiano, mas também guineense. O outro companheiro desta jornada académica e humana, português. Um, o presidente de duas independências que só o não foi porque uma coligação de interesses táticas e estratégias ao serviço do colonialismo, daquelas de que a história se encontra povoada, lhe ceifou essa vocação e esse destino, o outro, que convosco vive este momento singular, Presidente de Portugal”, afirmou, sobre a sua presença no evento de hoje como chefe de Estado e académico.
“Um, representante dos povos colonizados pátrias, libertadas depois de tempos que pareciam jamais terminar. O outro, representante de uma pátria que foi império colonial, antes de, ao depor a ditadura, assumir em plenitude a responsabilidade do império e do colonialismo de cinco séculos e se comprometer com um futuro de fraternidade e não de repressão de paridade e não de dominação, de justiça e não de exploração”, acrescentou.
“Aqui, no Mindelo, Amílcar Cabral recebe a consagração dos seus méritos no saber, na militância cívica, na personalidade moral. O seu doutoramento Honoris Causa é isso mesmo: Gratidão, homenagem, proclamação de exemplo ao estudioso, ao cientista, ao teórico e prático, ao especialista e ao humanista, ao pensador e ao homem do terreno, das pessoas de carne e osso, ao universitário da universidade dos Livros e ao universitário da universidade da vida”, disse ainda Marcelo Rebelo de Sousa.
Esta cerimónia marcou igualmente o 20.º aniversário da Universidade do Mindelo e antecede os 50 anos da morte de Amílcar Cabral (2023) e o centenário do seu nascimento (2024).
“Amílcar Cabral em nenhum momento confundiu a luta pela independência, a luta contra a subjugação, e não há nada mais sublime na vida de um povo do que a luta contra a subjugação. Amílcar Cabral nunca confundiu o colonialismo português, o sistema colonial com o povo português. Tinha um grande afeto pelo povo português. Tenho uma grande admiração pela língua portuguesa e em vários momentos teria dito que devíamos construir, após a independência, as mais sólidas relações com Portugal”, destacou, na sua intervenção, José Maria Neves, Presidente cabo-verdiano.
“Chegou a dizer que teríamos de discutir, negociar, programas especiais de cooperação entre os dois países e povos. Hoje, nós falaríamos de cumplicidades, falaríamos de parceria estratégica. E foi o sonho de Amílcar Cabral ver esses dois povos em paz, a dialogar e a construírem pontes para um futuro melhor para os povos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Portugal”, acrescentou.
José Maria Neves disse que a presença de Marcelo Rebelo de Sousa na cerimónia de hoje “é uma nova claridade que vai continuar a iluminar os caminhos do futuro das relações entre Portugal e Cabo Verde”.
“E é simbólico termos aqui o presidente da pátria democrática portuguesa, o professor Marcelo Rebelo de Sousa, a antiga potência colonizadora e o Presidente de Cabo Verde, pátria livre, independente, democrática a podemos juntos celebrar Amílcar Cabral, celebrar a independência, celebrar a liberdade celebrar a amizade entre os países”, disse José Maria Neves.
Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Amílcar Cabral nasceu em 12 de setembro de 1924 e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.
Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora, o líder histórico nasceu na Guiné-Bissau e partiu com oito anos, acompanhando a sua família, para Cabo Verde, onde viveu parte da infância e adolescência, antes de se licenciar em Agronomia, em Portugal, em 1950.
O ideólogo das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi considerado em 2020 o segundo maior líder mundial de todos os tempos, numa lista elaborada por historiadores para a BBC e com a votação dos leitores.
A lista é da “BBC World Histories Magazine” e foi feita por historiadores, que nomearam aquele que consideraram o maior líder, alguém que exerceu poder e teve um impacto positivo na humanidade.
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