Política
Presidente da República admite que futuro da Europa tenha protagonistas do passado recente
O Presidente da República admitiu hoje que o “salto” que se espera em relação ao futuro da Europa tenha protagonistas do passado recente, numa intervenção em que defendeu que em História não há ruturas totais.
Esta posição foi transmitida por Marcelo Rebelo de Sousa numa intervenção de 20 minutos que fez no final de um debate intitulado “E depois da liberdade”, no âmbito da Feira do Livro de Leiria, com a presença dos escritores Bernardo Pires de Lima, Joaquim Vieira e de Rita Canas Mendes.
Escutado por dezenas de pessoas, entre elas vários jornalistas, o chefe de Estado advertiu logo no início da sua intervenção que iria ser cauteloso nas declarações que iria proferir por ser dia de reflexão para as eleições europeias.
Quando se referiu ao livro recentemente lançado por Bernardo Pires de Lima, intitulado “Ano Zero da Nova Europa”, falou sobre a ideia de rutura em termos epistemológicos e deixou uma mensagem bem concreta: “No caso da Europa, bem pode acontecer o salto venha a ser dado por alguns dos protagonistas do passado recente, provavelmente os mais abertos ao futuro próximo, porque não há ruturas totais”.
De acordo com o chefe de Estado, colocam-se à Europa novos desafios “que são diferentes de todos os desafios que se colocaram nos últimos 30 anos em termos de guerra, de energia, de digital, em termos sociais e económicos”.
“Mas isso não quer dizer que a História se faça por ruturas absolutas. Portanto, bem pode acontecer que esse Ano Zero, como em tudo na História, que parece um ano de rutura radical, tenha uma componente de rutura e uma componente de continuidade”, defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa recorreu depois aos tempos em que foi deputado à Assembleia Constituinte eleito pelo PPD (Partido Popular Democrático).
“Havia a ideia de fazer um país totalmente novo. Depois, chegámos à conclusão que numa parte sim, mas também havia continuidades. E algumas continuidades pesam. Houve uma rutura com a democracia, liberdade, uma nova organização política, económica e social, com o fim do Império. Mas houve continuidades culturais, sociais e históricas, das quais só nos apercebemos mais tarde e que pesaram nas decisões para os momentos seguintes”, acrescentou.
Também na sua intervenção, o Presidente da República salientou o estudo do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) que concluiu que a maioria dos portugueses considera a revolução de 25 de Abril de 1974 o acontecimento mais importante da História de Portugal – um dado que, na sua perspetiva, revela a adesão dos cidadãos à democracia.
“Fiquei surpreendido, não esperava este resultado. As respostas são esmagadoras no sentido positivo a favor da democracia, não deixando de criticar o que neste momento é considerado negativo”, apontou.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou que o estudo do ISCTE foi feito em 2004, 2014 e este ano.
“Em todos os momentos, este é aquele em que o juízo a favor da democracia é mais positivo, embora com críticas que não havia nem em 2004, nem em 2014. Por exemplo, a habitação não surge nem em 2004, nem em 2014. A corrupção também não aparecia naquela altura como aparece hoje, assim como alguns aspetos relacionados com a segurança. Mas o saldo global, comparado com o saldo que as pessoas fazem da ditadura e seus vários aspetos, mostra que já há uma visão histórica e um distanciamento”, sustentou.
Na perspetiva do Presidente da República, o estudo em causa “revela a maturidade de uma nação que é muito velha, que já viu tudo”.
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