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Mãos vazias

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 17 horas atrás em 09-02-2025

O dia em que deixei de falar “sim” aos homens, aconteceu uma revolução na minha vida. Aprendi que o espaço que eu ocupava era o bastante – sem a pretensão de soberania -, a única incumbência: prosperar. Eu sei que há mulheres condenadas à sombra de um homem e essas suportam qualquer dor antes do seu desaparecimento. 

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Aos poucos, se não morrermos de exaustão, poderemos mudar alguns detalhes da História ao nosso favor, porque inscreveram na nossa pele, quando nascemos, que a mudança se faz com gente corajosa.

Quando aprendi o ofício da discrição, eu não sabia que estavam a amordaçar a minha voz e o pensamento. Às vezes, não consigo obedecer à razão e a minha voz, mesmo a sussurrar, dirá que viver em democracia, mesmo com os embustes tecnológicos e a opinião sobre tudo, ainda é melhor que o cabresto enferrujado e cruel sobre as nossas consciências. 

Mesmo que vivamos num jardim, nem tudo serão flores ou trégua, porque a rivalidade entre os gêneros ainda é o maior entrave para a evolução. Assistimos a uma degeneração do senso crítico e de autoavaliação. Muitas coisas, que eu julgava impossíveis, começaram a dar vazão às barbáries e, sem as virtudes basilares, condenei-me ao isolamento social.

Já fiz algumas revoluções, nomeadamente no secundário, quando a arte definiu o meu caminho, embora, eu não conhecesse os signos que me levariam à liberdade, imaculada diante das inúmeras possibilidades de frustração. Hoje eu sei que a liberdade é inconsciente, porque quando somos ou estamos livres, não admitimos prisões, mesmo as que nos submetemos diariamente. 

A liberdade não está condicionada ao pensamento e ao sentimento, é apenas uma suposição temporária da condição humana.

Uma vez cinza, não se consegue ver outra cor senão o cinza. O impossível ganha voz e corpo, os fantasmas voltam a intuir que as mulheres são as bruxas do século XXI.

A realidade muitas vezes ofusca a poesia dos dilemas morais, e a subversão com temor da censura. Todas as relações se tornam perigosas quando não se tem respeito e, infelizmente, não será por esse motivo que os bárbaros se curvarão.

Com as mãos vazias, assistimos à maior tragédia de todos os tempos: a servidão e a contradição humana.

OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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