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Mandingas cabo-verdianos desolados sem Carnaval para sair à rua em São Vicente
Os elementos do grupo tradicional de Mandingas da Ribeira Bote, ilha de São Vicente, figuras obrigatórias do Carnaval cabo-verdiano, dizem-se desolados, pelo segundo ano consecutivo sem festa, numa altura em que já deviam percorrer o Mindelo anunciando a folia.
Em entrevista à Lusa, o presidente do grupo, Nilton Rodrigues, garantiu que o estaleiro está de portas fechadas, mas aos domingos, altura em que habitualmente anunciavam a aproximação do Carnaval, costumam reunir-se para amenizar o sentimento de tristeza provocada pela ausência da festa, novamente em 2022, devido à pandemia de covid-19.
“Aos domingos costuma ser difícil por causa da tradição, que tínhamos de sair, por isso ligamos colunas de som com músicas de Carnaval numa das ruas da zona, preparamos uma comida para convivermos uns com os outros e aliviar a situação”, explicou Nilton Rodrigues.
As festas públicas e privadas de Carnaval foram proibidas pelo Governo de Cabo Verde – tal como em 2021 – devido ao aumento dos casos de covid-19 desde final de dezembro, atingindo a tradição dos mandingas. Estes costumam começar a anunciar o Carnaval semanas antes, pelas ruas do Mindelo, mas esta é uma das atividades que está proibida, para travar as aglomerações, face às multidões que estes desfiles arrastam.
Vestindo uma saia feita com cordas de sisal e espalhando carvão misturado com óleo pelo corpo, que dá à pele um tom negro uniforme e brilhante, os mandingas usam nestes desfiles diversos acessórios, por vezes lanças, mas também brincos, colares e chifres de animais pela cabeça, contagiando com a animação e dança quem assiste, numa demonstração de tradição africana e festa de Carnaval.
A proibição de sair às ruas – depois de recordes diários de novos casos de covid-19 em todo o país, no início de janeiro – tem afetado também as crianças, que desde cedo começam a interessar-se pela prática. “As crianças têm ultrapassado a situação da forma que conseguem, pois arranjam as saias, apanham latas, que substituem os tambores, e saem pela zona a tocar. Desde cedo muitos se pintam e se denominam de mandingas da Ribeira Bote”, contou Nilton Rodrigues.
O Ministério da Cultura e Indústrias de Criativas já anunciou que vai apoiar este ano a abertura de uma escola de música para crianças naquela comunidade, algo que deixa o presidente do grupo satisfeito, devido às necessidades locais.
“Como não houve a tradicional marcha dos mandingas, criámos um projeto, remetemos ao Ministério a pedir apoio. Pretendemos com a escola, dotada de instrumentos adaptados para crianças, ensiná-las a tocar e outras irão aprender a dança dos mandingas, apesar de trazerem esta prática desde muito cedo. Será uma forma de ocuparem o tempo, quando não estão na escola e, por serem muitas, deverão ser divididas em grupos para evitar aglomerações e risco de transmissão do vírus”, explicou Nilton Rodrigues.
O responsável assegurou que a própria comunidade tem estado comprometida e expectante com esta escola.
Os mandingas estão mais presentes no Carnaval, no entanto é possível encontrar a representação desta prática em alguns festivais ou eventos na ilha de São Vicente.
“Algumas atividades costumam ser solicitadas a elementos do nosso grupo e costumo fazer a ponte entre os jovens que vão para receberem algum dinheiro com este trabalho”, explicou o dirigente.
O valor para a compra dos materiais de caracterização e dos tambores em tempos de Carnaval é garantido com apoios da autarquia local, mas também de doações de “amigos do grupo” na diáspora cabo-verdiana.
“Nos desfiles, os elementos costumavam recolher dinheiro durante o percurso, porém, para que não descaracterizem este ‘feeling’ que é feito por amor, proibimos o ato de pedir”, rematou.
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