Lena D’Água apresenta na próxima terça-feira, em Lisboa, o seu novo álbum, “Glaciar Tropical”, ao qual se referiu como contracorrente, ao abordar temas atuais como a preocupação ecológica, com canções de Pedro da Silva Martins, que considera incríveis.
O álbum foi projetado na continuidade de “Desalmadamente” (2019), o primeiro que fez com o músico dos Cara de Espelho e ex-Deolinda. “Desalmadamente” valeu à intérprete o Prémio Play de Melhor Artista Feminina e o Prémio da Crítica, bem como o Prémio José Afonso, da Câmara da Amadora.
“Na altura, marcámos para nós que íamos fazer um segundo disco e, eventualmente, um terceiro”, disse a cantora em entrevista à agência Lusa.
Sobre este encontro com Pedro da Silva Martins, Lena D’Água recordou que o músico a ouviu a cantar ‘a capella’, em 2015, um tema de António Variações, “A Culpa é da Vontade”, e disse-lhe que ia escrever para ela. Entretanto, Silva Martins compôs “Nunca Me Fui Embora”, canção com a qual Lena D’Água concorreu ao Festival RTP da Canção em 2017, e surgiu depois o álbum “Desalmadamente”, já com este “Glaciar Tropical” em projeto, um título que pode parecer contraditório, mas que para a cantora não é.
“Todos somos uma coisa e outra. Eu sou uma coisa e outra, não sou nenhuma exceção”, argumentou.
Sobre este um álbum contracorrente, que interroga a atualidade, Lena D’Água disse: “Pedro da Silva Martins é ‘barra’ nisso, e eu também, a vida toda fui um bocadinho contra a corrente”.
A intérprete recusa canções panfletárias, mas considera que um músico deve estar atento ao que o rodeia e denunciar as situações com as quais discorda, e alertar para elas.
“Eu era incapaz de passar a vida a cantar canções de amor. Fazem-se tantas, e há tantas coisas a acontecer na nossa vida além do amor, umas divertidas, outras mais sérias, e esta preocupação pela natureza e os animais, cada vez mais passa pela cabeça das pessoas”.
“Sinto que devo [alertar], de uma forma ligeira, como o Pedro [da Silva Martins] faz, com imenso humor, nada de ‘boom, boom, catchapum, pum’. Não é uma militância à bruta, as coisas têm de ser apresentadas de uma forma bem humorada”, acrescentou.
Este novo álbum começou a materializar-se no verão de 2021, quando Pedro da Silva Martins “fez uma data de canções”. No início de 2022, Lena D’Água ouviu as maquetas. Depois, trabalhou as canções, memorizou as letras e as melodias, escolheu o melhor tom para elas.
De 17 canções iniciais, fez-se a seleção para o alinhamento do álbum. “Em relação ao disco anterior”, Lena D’Água disse a Pedro Silva Martins que lhe “faltava um bocadinho de ecologia nas letras”: “É uma preocupação minha de há tantos anos, já fiz coisas relacionadas com o nuclear e os animais, já nos anos 1980. No ‘Desalmadamente’ não há nenhuma letra com essas preocupações ecológicas, neste disco já existem umas três”.
“Depois fiz uma pré-produção em casa, que foi gravar cada uma das canções ‘a capella’, para ir experimentando de acordo com a minha tonalidade, um bocadinho mais agudo, um bocadinho mais grave, onde me sentia mais confortável, e que não perdesse o brilho, um trabalho que fui fazendo devagarinho, experimentando”.
A canção que logo se realçou foi “O Que Fomos E O Que Somos”, que a emocionou “até às lágrimas”, uma canção que apontou como “gigante, com uma letra com uma profundidade incrível, e uma melodia maravilhosa, além dos arranjos – aliás, os arranjos, em geral, são fantásticos”, sublinhou.
Outra canção com a qual também se identifica é “Metaverso”, que fecha o álbum. O alinhamento inclui ainda temas como “Sem Pressas”, “Fruta Feia”, “Carne Vegan”, “Tropical Glaciar”, que dá o título, e “Pop Toma”. Todos os temas são de autoria, letra e música, de Pedro da Silva Martins.
A cantora apontada pela crítica musical como “diva da pop”, disse que não recusa o epíteto, e até gosta.
Sobre a sua longevidade em cena – completa 50 anos de carreira em 2026 -, Lena D’Água realçou ter sido pioneira, como líder feminina de bandas, nas décadas de 1970-80.
A cantora estreou-se em 1976, com os Beatnicks, liderados pelo baixista Ramiro Martins.
“Das mulheres daquela altura, só me lembro da Mafalda Veiga que continua a gravar discos e a fazer concertos, e os homens estão todos aí….”.
A cantora prepara em parceria uma autobiografia que irá fazer “sem pressas” e sem data prevista, talvez em 2026, mas não promete.
Lena D’Água que “sabe o básico de uma guitarra” e teve aulas de piano “aos 30 e tal anos”, reconheceu que nunca teve “essa urgência interior de compor ou escrever”.
“Enquanto compositora nunca tive aquilo que eu acho que faz um grande compositor – uma pessoa ter lá dentro de si uma urgência que impele a escrever e a compor”.
“Glaciar Tropical” é apresentado ao vivo na próxima terça-feira, dia 12, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, e chega ao mercado na sexta-feira seguinte, 15 de novembro.
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