Opinião
“La Feria de las Mentiras”
O dia foi encontrado, entre mapas, perdidos no Atlântico, “entre Ceuta y Gibraltar”; ora Salamanca, esgotado, ora Málaga, fechado, mas o cachopo teimou e encontrou data certa. Afiançados, nos fomos.
Metemos gasóleo, do barato, atirámos umas notas ao bolso e por lá fomos, ‘ruta’ Bussaco, destreza à direita, Aguim, muitos eucaliptos nas bordas do Caramulo e, já descidos, Museu do Vinho, na Anadia.
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Abriu-se um Baga, de bolhas, de 2014, um Marquês de Marialva para saciar plebe ressequida e, vai de tornar outro Baga, de 2021, um Quinta do Valdoeiro, que isto é ruta de muita sede.
Assim, plasmados ao sol, vinhas no bardo, cachopo apressado, eu rilhar conversa e abalámos a Águeda.
No começo, grande susto, a pinga era Verde. Sumo de cevada e toca a ouvir ensaio e concerto. Do da Bairrada, não o topámos. “Y aquí siguo sin saber”.
De telemóvel na mão, fizemos alguns diretos para este Jornal, sonhámos e batemos palmas. E dançámos, eu e ele, dois putos, na incerteza da calle, probida e sonhada.
A ocasião levava anos de atraso, depois de Baiona – aonde fui de impulso fugidos ao estio do Mosteiro de Fráguas, e foi bonito.
Sim, o sexagenário tem trupe reduzida, boas letras, alegria na música e pouca intervenção. -se Palestina, não escutei França, tampouco Trump, mas apreciei o marketing territorial de Águeda.
Eu, que queria uma entrevista e uma fotografia, desunhei-me, mas nada. O Manu já não tem Mano Negra, a Rádio Bemba não se sintoniza, mas foi uma terça-feira de sorte, bom leitão, extraordinário local e pouco cuidado. Não om o asseio ou segurança, antes no projetar Manu Chao, que recusou tocar
este verão em grandes festivais portugueses e tem posições ideológicas com as quais comungo.
Águeda brilhou, artista pode ter capricho, mas, no mínimo, uma fotografia a imortalizar a ponte e o Vouga.
Não houve nada disso, ficou a música e o espanto, de um espectador, aflito com o meu charuto a queimar um rácio minúsculo de broca. Percebe-se o povo. Anda aflito e não quer distrações. “Vida va prohibida, dice la autoridade”.
Puxámos outro porro, a cavalo na burra, bailámos, bebemos, comemos e cantámos. No regresso, madrugador, o assombro, a estuporação.
Sem carreira terrestre, mas com telégrafo, leio, espantado, que nos Açores, os filhos dos desempregados vão ser discriminados no acesso às creches gratuitas, isto é, no fim da lista ficaram os desafortunados, sem tempo para buscar comida ou emprego.
Nas Cortes discute-se a paternidade das ideias, umas roubadas, outras truncadas e, enquanto isso, sobem requerimentos ao Parlamento para explicar salários em atraso.
Num país teso, com impostos mesquinhos, vamos facilitar a vida às corporações e aos miúdos. Os médios, tenho mais de 50 anos e 36 deles com o trabalho às costas, não se põe o homem a falar, para nos dar ânimo à luta.
A tradição mágica, a miscigenação cultural, os manuscritos, tudo entregue aos deuses mágicos do poder. Nós, arrastando confrarias, desejamos viajar nesse autocarro clássico e acrescentar Mondego, indo a Montemor-o-Velho.
Mas não temos nada disso, o tecnocratismo autárquico, sem perceber muito bem o que conseguiu, deixa-nos assim, de despesa paga e sem farturas.
Como o outro, que mostra as contas, mas não a despesa permanente, que cresce como erva nas montanhas de Marrocos.
Um Kif capaz de defenestrar esta modorra, em que nos comem as papas no carolo e nós, pasmados, assim, alijando burro.
De caminho, sempre mamamos de cobra. Agita-te Águeda e bem hajas, afinal, “la vida es una tómbola, y arriba y arriba”.
O espanhol de França, pai galego e mãe basca, está lá, temerário e contraditório. E visionário, a lutar por mundo melhor, de costas voltadas ao sistema.
Sim, temos de nos fazer pensar.
Próxima Estación, Esperanza!
OPINIÃO I AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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