Um jovem casal português conheceu-se em Moçambique e tinha decidido regressar a Portugal quando iniciou uma viagem que já soma 70 mil quilómetros por meia África, num ano e meio.
Com o dinheiro que custaria um carro novo, conseguiram transporte, “casa”, alimentação e uma aventura por cerca de três dezenas de países africanos, que lhes deixa uma bagagem para a vida.
A Lusa encontrou Joana e André na Guiné-Bissau, no caminho já de volta a Portugal, onde o casal na casa dos 30 anos, deve chegar antes do Carnaval, com “muita vontade de partilhar todas as histórias” que viveram nos últimos meses.
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A educadora de infância e o enfermeiro portugueses viveram seis anos em Moçambique e será a primeira vez que vão viver juntos em Portugal, depois de terminada esta aventura por África.
“Simplesmente escolhemos uma coisa diferente daquilo que normalmente as pessoas escolhem investir”, conta à Lusa Joana, secundada por André, que garante que prefere “não ter um carro novo quando chegar a Portugal, mas ter estas histórias todas para contar”.
Foram partilhando algumas nas redes sociais, na página com o nome “De Chapa em Chapa”, como são conhecidos os veículos que servem de transporte público em Moçambique.
Com um carro igual, que compraram para a viagem por África, passaram “onde se pensava que só iria um todo-o-terreno equipado”.
É a casa, é onde viajam, dormem, cozinham. Comer em África é fácil, vende-se de tudo na estrada. Alguns países são caros, mas encontraram sempre tudo.
“A nossa forma de viajar e o orçamento que tínhamos, fez-nos tomar uma decisão o mais sensata possível, mas também nos leva muito à reflexão de que, muitas vezes, nós achamos que para viajar é preciso uma coisa toda artilhada e na verdade viajar pode ser muito mais simples do que as pessoas pensam”, garante André.
Àquelas pessoas que “ficam presas” à ideia de que para viajar é preciso de “ter o carro ideal, coisas que custam oitenta, cem mil euros”, André assegura que ele e Joana “com muitíssimo menos do que isso” já fizeram “70 mil quilómetros em estradas africanas, algumas delas bastante desafiantes”.
A intenção do jovem casal quando decidiu deixar Moçambique era chegar a Portugal, e continua a ser, mas tinham “um pé-de-meia e quando iniciaram a viagem perceberam “que tudo era muito mais fácil do que aquilo” que tinham previsto.
“É claro que tinha custos, principalmente avarias com o carro, mas o combustível equivalia a uma renda de uma casa. Pagávamos o combustível e o alojamento estava garantido, que era o carro, e fomos sempre encontrando pessoas que nos ajudaram muito e no fundo fomo-nos deixando encantar e fomos aprendendo muitas coisas”, partilha Joana.
Inicialmente planearam fazer 50 mil quilómetros, mas na chegada a Bissau já contavam 70 mil e ainda tinham pela frente Senegal, Gâmbia, Mauritânia, Marrocos até chegar à Europa.
No “chapa”, viajam com um mapa onde vão riscando os países por onde passam, além de ostentaram as bandeiras dos mesmos, coladas na traseira da viatura.
Ao longo desta aventura, que já leva ano e meio, estiveram frente-a-frente com elefantes, hienas que lhe tentaram comer as cadeiras e roubaram carvão, apanharam um susto com um hipopótamo, enfrentaram trovoadas que abanavam o carro, mas o pior foi a corrupção, da qual conseguiram sempre escapar, manipular a situação, levando com boa disposição.
“Mas nunca nos sentimos inseguros”, assegurou Joana, e as situações más não foram assim tantas, acrescenta André.
Estiveram nas Cataratas Vitória, entre a Zâmbia e o Zimbabué, foram ao Kilimanjaro (Tanzânia) e concluem que “África é muito bonita e muito diversificada”.
“Pensamos sempre África como a natureza e os animais selvagens e a ruralidade, mas há muitos africanos a viverem nas capitais que são, além de populosas, modernas, com discotecas, bares, cinemas, centros comerciais, museus, bibliotecas”, salienta Joana.
O casal gosta de “mostrar a cultura de uma forma crua, desconstruir os preconceitos à volta da cultura africana”, a “tendência” europeia “ de olhar “como se todas as culturas africanas fossem inferiores”.
Referem em concreto a forma como se olha para os que vivem “com dois ou três panos como sendo muitos pobres” e que afinal “são pessoas que vivem a sua cultura, que vivem felizes, vivem integradas de forma comunitária, vão à escola”.
O mais duro para os dois vai ser a chegada a Portugal porque levam “muitas coisas” e ainda não sabem o que vão fazer com elas.
“Temos muita vontade de partilhar estas coisas. Acho que vai ser uma segunda viagem reviver todos estes meses, todas estas histórias”, diz André.
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