Portugal

Jovem açoriano constrói tradicionais violas da terra e guitarras de Coimbra  

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 22-09-2019

Hugo dedica-se “a tempo inteiro” na sua nova oficina, em Ponta Delgada, à construção de violas da terra, instrumento de cordas típico açoriano, e tem encomendas de vários pontos do país e até do estrangeiro.

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“Trabalho não falta. Há sempre reparações para fazer de instrumentos, alguns dos quais muito antigos. E há muitos turistas interessados em adquirir uma viola ou guitarra”, disse à agência Lusa Hugo Raposo, de 29 anos, enquanto mostra uma guitarra quase pronta para seguir para os Estados Unidos da América.

Até final do ano passado, Hugo tinha oficina na casa do Pico da Pedra, São Miguel, mas a abertura do espaço em Ponta Delgada, desde janeiro, teve como intuito dar “maior visibilidade” ao trabalho, uma “ideia da mãe”.

Na loja, dedica-se à construção de raiz de violas da terra (instrumento certificada com a marca Artesanato dos Açores), guitarras portuguesas, guitarras de Coimbra, viola clássica e viola para fado, mas também bandolins e cavaquinhos.

“As encomendas são para os Açores, mas também tenho pedidos do continente e de emigrantes dos Estados Unidos da América e Canadá que requisitam muito as guitarras portuguesas”, explica Hugo Raposo, filho de um fadista/barbeiro, e cujo avô também já tocava viola de fado.

Da Europa chegam também encomendas, segundo o jovem, que recorda um episódio de um casal de turistas que adquiriu uma guitarra portuguesa que estava exposta no salão/barbearia dos pais, paredes meias com a loja.

O preço mínimo de uma viola da terra é de 750 euros, enquanto a guitarra portuguesa ronda os 1.500 a 1.750 euros.

 

 

“Geralmente, as pessoas procuram uma guitarra boa, construída de raiz”, sublinha, admitindo que a guitarra portuguesa é mais conhecida e daí que a procura aumenta, por aquele instrumento seja maior.

Por ano, são “mais de dez violas” que constrói, num processo meticuloso.

“A construção demora entre 100 a 150 horas”, repartidas “entre um mês e meia a dois meses, mas tudo depende dos materiais”.

E prossegue: “A viola é construída por fases. Há o corte da madeira, depois unir os tampos. O tempo de secagem das colas, a secagem do verniz”.

De segunda a sábado na oficina, outrora a barbearia da avô, Hugo Raposo dedica-se “em exclusivo” à reparação e construção de instrumentos de corda de raiz, o que já faz “há 15 anos”.

“Tenho um violino de 1800 quase reparado. Ele veio todo desmontado”, conta.

Hugo Raposo salienta a importância de incutir “mais” a aprendizagem nas escolas de um instrumento ligado à cultura açoriana, salientando o trabalho que Rafael Carvalho, músico e professor, tem feito para divulgar a viola da terra, que possui cinco parcelas de 12 cordas.

O instrumento é também conhecido como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.

No passado, o instrumento fazia parte do dote do noivo e o seu lugar na casa durante o dia era em cima de uma colcha axadrezada, como adorno do quarto do casal, assumindo, desde o povoamento do arquipélago, um lugar de destaque nos festejos, bailes, cantorias e serões.

Com formação na área de marcenaria/carpintaria, Hugo Raposo tem entre mãos “a desafiante” tarefa de reparar “um bandolim com cerca de 100 anos”, um instrumento propriedade de uma família.

“Somos de famílias de tocadores e de pessoas com habilidade manual para a madeira”, diz com orgulho.

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