Educação
José Luís Peixoto não aprova a prova
O escritor José Luís Peixoto recordou hoje que também já foi professor contratado, considerando que a prova de avaliação a que o Ministério da Educação decidiu sujeitar milhares de docentes não contribui para a qualidade do ensino.
“Eu próprio já fui professor contratado e tenho muitos ex-colegas de faculdade nessa situação”, afirmou em declarações à agência Lusa quando contactado a propósito do manifesto que subscreve contra a Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos (PACC), marcada para quarta-feira em escolas de todo o país.
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O escritor que pensou que seria professor toda a vida, considera que esta questão, além de o tocar em particular, diz respeito a todos os portugueses. “Principalmente num momento como este, em que a educação, mais do que ser colocada em segundo plano, deve ser privilegiada enquanto aspeto estratégico para que se ultrapassasse esta situação e se construa o futuro”.
Para o escritor, a PACC é “mais um episódio de uma falta de visão que vem de longe e que afeta toda a sociedade, particularmente o ensino e aqueles que se lhe dedicam”.
“É um assunto que me choca e que me constrange. Como se não bastasse a situação lamentável de gente que trabalha muitas vezes há mais de 10 e 12 anos sem vínculo e sem qualquer garantia, ainda se faz uma prova como esta que nada vem trazer à qualidade do ensino”. Declarou.
José Luís Peixoto deu aulas de Inglês durante quatro anos, na década de 90.
Dois anos foram passados na zona de Coimbra, em Lousada e perto de Oliveira do Hospital, um ano em Cabo Verde e o outro na Pontinha, arredores de Lisboa.
“Gostei da experiência, aliás durante toda a escola secundária e os anos da faculdade sempre acreditei que era isso que ia fazer”, recordou.
Já tinha o exemplo da irmã, professora, e parecia-lhe ser então a opção mais viável. Não pensava que ser escritor pudesse ser para si uma opção profissional.
“Quando essa opção começou a tornar-se mais viável, senti que efetivamente a aventura da escrita profissional não trazia mais instabilidade do que a do ensino. Na altura já era bastante instável e não me trazia garantias sequer do lugar onde iria viver no ano seguinte”, lembrou.
Depois de enfrentar a oposição dos sindicatos, o ministério decidiu dispensar da prova os docentes com cinco ou mais anos de serviço, tendo com isso afastado a contestação da Federação Nacional da Educação (FNE).
Mantém-se no terreno contra a prova a Federação Nacional de Professores (Fenprof), a maior organização sindical da classe, com um conjunto de sindicatos de menor expressão e dois grupos organizados de professores contratados.
Estão inscritos para a prova 13.498 docentes, segundo dados do Instituto de Avaliação Educativa Educativa (IAVE).
A prova está marcada para 113 escolas, a partir das 10:30 e tem a duração de duas horas, havendo várias iniciativas em curso para tentar travar a sua realização, incluindo uma greve a todo o serviço relacionado com o exame.
Além dos sindicatos, estarão à porta das escolas grupos de professores que têm tentado sensibilizar a comunidade escolar e a opinião pública, em geral, para a situação destes professores.
Para o Ministério da Educação, trata-se de um instrumento destinado a escolher os melhores professores para o sistema.
O setor privado apoia a medida e diz que já a pratica.
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