Fama
JANITA SALOMÉ “SOLTA” PÁSSARO AZUL
O músico Janita Salomé, com mais de 50 anos de carreira, reinterpreta no novo álbum, “Pássaro Azul”, vários temas do seu repertório em parceria com amigos como Rão Kyao, Maria João e Ana Bacalhau.
“Que melhor me podia acontecer do que estar acompanhado por quem estou, todos grandes amigos, cantores e compositores, dos melhores músicos do nosso país. E tudo isto faz com isto seja um ‘Pássaro Azul’”, disse o músico à agência Lusa, referindo a mística que desde a Antiguidade se liga ao Pássaro Azul, como portador de positividade e boa aventurança.
PUBLICIDADE
“Pássaro Azul” surge seis anos depois do anterior álbum de Janita, “Valsa dos Poetas”, “uma ausência prolongada [sem gravar]”, reconheceu o músico que a atribuiu à sua vida pessoal, tendo-se sentido como um náufrago na praia, longe da zona de rebentação das ondas, de braços abertos, em quem um pássaro azul, augúrio de coisas boas, veio pousar, contou à Lusa, referindo um paralelismo com uma narrativa do escritor Sidónio Cachapa.
O elenco de amigos que fazem parte do álbum é constituído por Rão Kyao, que “canta com a flauta”, o seu irmão Vitorino, Camané, Ana Bacalhau, Marisa Liz, Filipa Pais, Lúcia Moniz, José Cid, o grupo Fogo Fogo e Maria João.
Referindo-se ao álbum e à escolha feita, Janita Salomé, 77 anos, disse à Lusa: “Foi como que recomeçar, voltar atrás, revisitar velhos temas, dos que mais gosto, e revisitar amigos através desses temas, alguns desses amigos já estão do lado de lá da montanha, no entando foi uma maneira de estar com eles, através das suas palavras”.
As canções escolhidas incluem, entre outras, “As Tardes de Casablanca” (Hipólito Clemente/Janita), que gravou com Rão Kyao, “Altinho”, um tema tradicional alentejano, que gravou com Vitorino, “Outra Rosa” (Hélia Correia/Janita), que interpreta com Lúcia Moniz, e “Homens do Largo” (Vitorino), que gravou com Camané.
Janita Salomé reconhece-se, essencialmente, como cantor, uma opção que tomou em definitivo, quando deixou a função que desempenhava no Cartório Notarial de Redondo, de onde é natural.
“Comecei de miúdo, a cantar com os meus irmãos mais velhos. Descobriram logo que eu sabia cantar, por isso é que não toco tão bem viola, embora o Vitorino diga que sim, mas descobri a voz e a viola não passa de um auxiliar na composição”.
O músico reconhece que as canções, como hoje as interpreta, refletem “uma evolução”, um pensar antes de cantar, quando dantes era ao contrário.
“A voz era mais áspera, nervosa, eram as hormonas ali a rebentar, agora está-se mais tranquilo, pensa-se melhor. Dantes cantava e depois é que pensava, agora faço o contrário, penso e depois é que canto. A colocação da voz é diferente, já não é tão ríspida, e todas essas diferenças vêm conscientemente”.
O músico realçou a sua “evolução pessoal” que o “leva a fazer hoje abordagens diferentes, porque não somos sempre a mesma pessoa a vida inteira”.
“Há algo de nós que se mantém que nos caracteriza e identifica, mas há pormenores da nossa maneira de ouvir, ver e, neste caso, de cantar e compor, que com o tempo têm a sua dinâmica”.
Do alinhamento faz parte uma canção em ladino, língua de origem sefardita, “La rosa Enfloresce”, do século XVI, que interpreta com Ana Bacalhau, e outra, “Palestina”, com música sua, que gravou com os Fogo Fogo, e às quais se referiu como o seu “apelo à paz”, naquela parte do mundo.
“É uma questão fraturante, que me dá pena ver tanta gente a morrer, sejam israelitas, sejam palestinianos. O que se está a passar é inaceitável”, afirmou.
O álbum inclui um soneto de Natália Correia (1923-1993), “Creio nos Anjos que Andam pelo Mundo”, que Janita musicou e que chegou a dar conta à poetisa da sua intenção de o gravar, mas a autora de “Mátria” nunca chegou a ouvir o resultado final. Neste álbum Janita interpreta o soneto com Marisa Liz.
Com Maria João interpreta “Não é Fácil o Amor”, canção de que vem de “Cantar ao Sol”, sobre poema de Luís Pignatelli (Luís Oliveira de Andrade).
José Cid, “um velho amigo” de Janita, é o único que bisa a presença interpretando duas versões de “Ciganos” (Manuel Alegre/Janita), uma com arranjos de José Peixoto, também autor de outros arranjos, e uma com arranjos do próprio Cid. “Foi um desafio que aceitei e inclui no disco”, disse Janita Salomé.
“Sempre presente” nos seus trabalhos está José Afonso, e neste álbum gravou com Filipa Pais “Zeca” (Hélia Correia/Janita), com arranjos de Filipe Raposo. O músico tinha já colaborado com Filipa Pais, no álbum “Lua Extravagante” (1991) e em “Muxima: homenagem ao Duo Ouro Negro” (2010).
Related Images:
PUBLICIDADE