Opinião

Jamones!

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 34 minutos atrás em 26-04-2025

Um quilo de jamón, 36 meses de cura, sem osso e três quartilhos de briol para conseguir analisar a abrilada. E ouvir públicas explicações sobre “planeamento tático”, essa coisa que “demora algum tempo” em que, muitas vezes, “uma ocupação extensiva do espaço pela polícia faz com que as pessoas se tornem mais agressivas”.

Certo, tomai lá um público agradecimento e olhemos aos três dias de luto nacional declarados pela morte do Papa. A festa ainda teve assalto premeditado mas o povo, o bom povo, não deixou levar a inquisição adiante e virou-se no briol.

Reservas nas celebrações, assim uma espécie de liberdade condicional, e ver o bater de mãos daqueles que nos roubaram a identidade, a religiosa e a cívica.

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Foram os Santos, Todos, o Corpo de Deus, a República e a Restauração da Independência. Uma mão por detrás de arbusto que, nestes dias, descobriu a outra para bater palma e dar um murro no peito. Domados. Não. Amotinados.

O país católico que decreta luto nacional é o mesmo onde tantos querem aumentar a repressão sobre os imigrantes, travar o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, aumentar as deportações.

Sobre a hipocrisia, estamos conversados.

Sobre os confrontos, é confrangedor ver que já administrou a Justiça com quem estes comportamentos.

As imagens dos confrontos, e a cobardia dos que erguem a saudação romana, mostram-nos um Portugal capturado e cativo do interesse de uma minoria.

Não percebem nada. Nem da República, nem do Cristianismo. E muito menos compreendem Francisco, o Papa que nos quis a todos. Que somos cada vez menos. Mesmo que alguns, como no

domingo de Páscoa, nasçam na ambulância, a caminho de Coimbra.

Bem-vinda, Maria, tu e as outras duas dezenas neste país de medicina móvel, em que se nasce na ambulância.

A demografia que não se discute, alienados que estamos, presos à televisão, como se fosse confronto de claques e apenas visibilidade, repetida à naúsea.

Entrementes, no país dos votos, continuamos a assistir ao crescimento económico do litoral, e o despovoamento do interior, uma toleima num país que se atravessa em duas horas.

Caminhos estreitos, para tantas necessidades. E ainda nos querem calar.

Antes o jamon que a mordaça.

OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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