Câmaras
Jaime Soares despede-se da Câmara de Poiares após quase 40 anos de liderança
O social-democrata Jaime Soares deixa hoje a presidência da Câmara de Vila Nova de Poiares, ao fim de quase 40 anos de liderança, vincando que o poder económico “nunca impôs a sua vontade” no município.
Jaime Carlos Marta Soares, de 70 anos, militante do PSD, entrou para a autarquia de Poiares, no distrito de Coimbra, em 1974, após o 25 de Abril, integrando a Comissão Administrativa escolhida pela população, então ainda membro do MDP/CDE.
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“Quando entrei para a Câmara, tinha eu 30 anos. Foi num dia maravilhoso, em que sentíamos ainda o pulsar do 25 de Abril”, que permitiu “essa liberdade que foi muito útil para os portugueses”, disse o autarca à agência Lusa.
Na segunda-feira, após ter atendido vários munícipes e trabalhadores da autarquia, tendo ainda percorrido o concelho na companhia do seu sucessor na presidência, João Miguel Henriques, eleito pelo PS, Jaime Soares assinou os últimos documentos de uma gestão que protagonizou durante 39 anos, incluindo a sua passagem pelo executivo provisório.
Vila Nova de Poiares “tinha 22 casas em volta da igreja. Havia ruas ou carreiros em volta da vila que tinham mato, em vez de terem ‘tout-venant’, muito menos alcatrão. A água era de chafurdo e as luzes nas casas eram os candeeiros a petróleo e os gasómetros”, recordou.
“Deixo um cargo que fui desenvolvendo com muita entrega, diria até com algum sacerdócio, ao longo de cerca de 40 anos, é uma vida…”, declarou à Lusa, a poucas horas da partida.
Em 1974, quando um plenário de cidadãos o escolheu para a Comissão Administrativa, integrando um grupo de 13 eleitos que o Governo Civil de Coimbra reduziu a três, “a única indústria que havia na vila era uma serração” de madeiras.
“Quando a ribeira de Poiares enchia, a maior parte das tábuas iam ter à Figueira da Foz”, gracejou, numa alusão à debilidade do tecido produtivo do concelho nessa época.
Ao longo de dez mandatos consecutivos na presidência, desde 1976, Jaime Soares apostou na captação de empresas para a Zona Industrial que instalou de raiz, atualmente constituída por dois polos.
“Praticamente, não há hoje desemprego em Vila Nova de Poiares”, assegurou.
Por outro lado – “e quero dizer isto com muita satisfação – o poder económico nunca em circunstância alguma impôs a sua vontade” no concelho, congratulou-se.
Na área urbanística, Jaime Soares realçou que os executivos que liderou recusaram “descaracterizar a vila”, sem ceder à pressão imobiliária, optando por construção com o máximo de dois ou três andares.
“Um dos grandes males da administração e da governação foi quando os políticos deixaram dominar-se pelo poder económico, que muitas vezes é selvagem e não deixa que haja o equilíbrio e o bem-estar das populações”, afirmou.
Jaime Soares reconhece que o município “deve muito dinheiro”, mas que “tem muitas e boas condições” para entrar “dentro de meia dúzia de anos em desafogo financeiro”.
O professor do ensino secundário João Miguel Henriques, ex-árbitro de futebol, toma hoje posse, às 09:00, como segundo presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares na era democrática.
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