Coimbra

Já passou imensas vezes por esta avenida de Coimbra e nem sabe quem é o cientista que dá nome à artéria!

Notícias de Coimbra | 8 meses atrás em 14-04-2024

José Bonifácio de Andrade foi “um homem das luzes” portuguesas e brasileiras, numa altura em que grandes figuras da sociedade e a monarquia eram atlânticas, defende a autora da primeira biografia em Portugal do personagem da independência do Brasil.

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José Bonifácio de Andrade formou-se em Filosofia Natural e Direito Canónico, em 1787 e em 1788, sendo a personalidade que dá nome à avenida entre a Rotunda da Guarda Inglesa e o Forum Coimbra.

“Foi um homem das luzes e uma figura muitíssimo importante das luzes portuguesas e das luzes luso-brasileiras. E isso também é interessante e outro fator a destacar” na biografia, a lançar em maio, disse à Lusa a investigadora Isabel Corrêa da Silva, salientando que estas “figuras de finais do século XVIII e início de XIX são luso-brasileiros”.

José Bonifácio de Andrade nasceu no Brasil, estudou em Coimbra e depois foi para a Europa. Mais tarde, trabalhou duas décadas em Portugal e voltou depois para o Brasil, tudo isto num contexto “da monarquia portuguesa, nessa altura, que é uma monarquia Atlântica”, o que, no entender da autora, quer dizer que era uma monarquia que tinha “vários polos”.

“Não podemos pensar apenas no polo europeu e da Península Ibérica. É esta mobilidade e também esta amplitude de circulação destas figuras políticas, intelectuais e sociais, um elemento a destacar” naquele período da história, frisou Isabel Corrêa da Silva, em entrevista à Lusa.

Neste contexto, o que tornou célebre José Bonifácio de Andrade “foi o fugaz protagonismo que teve depois, já quase no fim da vida, quando regressa ao Brasil e tem um envolvimento muito intenso nos eventos da independência”, sublinhou a autora da primeira biografia de Bonifácio de Andrade escrita em Portugal.

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Já em Portugal destacou-se como cientista e como homem público, porque, de acordo com Isabel Corrêa, “nos finais do século XVIII, intelectuais como Bonifácio de Andrade eram tudo, cientistas, mas também pensavam e escreviam muito em torno de soluções para o desenvolvimento do país. Portanto, eram intelectuais públicos, com propostas de políticas públicas. Não apartavam o seu trabalho da ciência de uma ciência aplicada, no sentido da promoção do desenvolvimento do país. E é nisso que ele se destaca efetivamente”.

Esta figura viveu num período da história portuguesa “bastante negligenciado, todo o século XIX, de uma certa maneira”, o que Isabel Corrêa lamenta, porque “as primeiras décadas do século XIX são as da fundação da nossa modernidade”.

“O enquadramento jurídico e mesmo ideológico dos princípios da igualdade perante a lei são herdados desta transição que se faz do antigo regime para o liberalismo, no início do século XIX e, no entanto, é um período que está muitíssimo mal estudado” disse.

Pensar a revolução liberal portuguesa implica a transição para o liberalismo e implica pensar no Brasil, defendeu.

“Isto é muito severo dizer assim abstratamente, mas depois é mais fácil perceber se nos focarmos em pessoas. E esta pessoa em causa, de certa forma, encarna este horizonte de possibilidades políticas e geográficas que estavam na altura”, frisou.

“[Pelo que] pareceu-me ser uma figura que muito bem encarna e exemplifica toda a complexidade política que esteve em causa neste período, fundacional para o Brasil, porque é a origem de uma nova nação, mas é também fundacional para Portugal”, porque é a época em que se dá “uma transformação para o Portugal que nós temos hoje. Nós somos herdeiros desta transição”, explicou.

Bonifácio de Andrade foi uma figura central no processo de independência do Brasil de 1822 e um expoente das luzes luso‑brasileiras de finais do século XVIII, com reconhecimento científico e académico internacional.

“Este livro pretende recuperar a história do cientista e humanista português conhecido como o Patriarca da Independência do Brasil, que se destacou também como uma das primeiras vozes públicas a defender o imperativo da articulação entre a reforma do império luso‑brasileiro e a abolição do tráfico de escravos”, refere a editora do livro, a Tinta da China.

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