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Já passaram seis meses após invasão russa na Ucrânia

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 21-08-2022

Seis meses depois da invasão russa, o conflito na Ucrânia tornou-se numa guerra de atrito, com avanços e recuos dos dois lados, e sem fim à vista, antecipam especialistas ouvidos pela Lusa.

“Nós temos guerra [na Ucrânia] desde 2014, após a anexação da Crimeia e os conflitos no Donbass [leste]. Quando esta nova fase da guerra começou em 24 de fevereiro, inicialmente todos pensaram que, face ao poderio bélico russo, houvesse uma conquista rápida do território”, declarou Francisco Proença Garcia, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

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Segundo Proença Garcia, “este pensamento esfumou-se rapidamente devido a brava e corajosa resistência dos ucranianos e veio mostrar-nos que a guerra iria ser prolongada”.

“Será uma guerra prolongada porque não temos solução à vista. O Presidente ucraniano não quer ceder território, e está no seu direito, e os russos não querem entregar os territórios conquistados em qualquer tipo de negociação”, avaliou Proença Garcia.

“A guerra de atrição é isso mesmo, hoje ganha-se ‘x’ quilómetros quadrados e amanhã perde-se, isso é a guerra de atrição, é o atrito, naquilo que é a guerra tradicional de conquista e cedência de território”, adiantou.

Para Madalena Resende, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, “a previsão mais realista é que esta guerra se mantenha com as características que vemos até agora, como uma guerra de atrito, com a continuação de ganhos e perdas dos dois lados nos cenários oriental e sul”.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

O investigador Pedro Ponte e Sousa, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), pensa que “o conflito tende cada vez mais para o longo prazo, eventualmente não apenas numa escala de meses, mas até de anos, ainda que seja sempre impossível uma previsão”.

“Pelo menos, assim será enquanto ambas as partes entendam ser possíveis avanços – territoriais para a Ucrânia, ou o reconhecimento dos avanços territoriais já obtidos para a Rússia -, que as vantagens que a guerra possa trazer sejam maiores do que o seu fim”, referiu Ponte e Sousa, também professor de Relações Internacionais na Universidade Portucalense.

Para Proença Garcia, “há um outro indicativo muito claro de nos diz que esta guerra vai ser prolongada, nomeadamente quando em 25 de abril o secretário da Defesa norte-americano [Lloyd Austin] declara que o grande objetivo é desgastar a Rússia”.

“Isto empurra-nos logo para um longo processo de desgaste financeiro, desgaste de equipamentos da Rússia e afastá-la um bocado da ordem mundial”, disse à Lusa.

“O (ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei) Lavrov disse, talvez há um mês, que já não querem só o Donbass, querem ir mais além, demonstrando que a guerra não vai parar. É o que estamos a assistir, a guerra está para durar, infelizmente para todos nós”, referiu ainda o professor da Universidade Católica.

“Estamos agora, talvez, numa pausa operacional. Os ucranianos estão a ser muito fortalecidos pelo Ocidente, e bem, como mísseis, com aviões, com artilharia e isso está a permitir bater os alvos russos a maior distância, a atacar as suas bases na retaguarda, fazer contra-ofensivas. Entretanto, depois de perder território, reconquistá-lo é sempre mais difícil”, sublinhou Proença Garcia.

“Normalmente, para conquistar um território é preciso uma capacidade operacional, um potencial relativo de combate, que é o termo correto, de três para um. Se a Ucrânia já perdeu território, para o reconquistar vai precisar de muito mais forças”, referiu o professor da Universidade Católica.

Ponte e Sousa sublinha que este é um conflito cada vez mais arriscado, pela ação de atores externos como os Estados Unidos e potências ocidentais e pelas suas possíveis consequências mais globais, nomeadamente a aceleração de outros conflitos, como Taiwan, e do confronto entre grandes potências.

Segundo o professor da Universidade Portucalense, o risco ocorre também “pela manobra no terreno” onde, por exemplo, há a questão que “envolve a situação da central nuclear de Zaporijia, e os ataques ucranianos às forças russas aí presentes, ou o crescente uso de formas assimétricas de guerra, como se tem visto na Crimeia”.

A ONU confirmou que 5.514 civis morreram e 7.698 ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

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