Opinião
Já mandámos o Sebastião, que mais querem?
O país, este país, o nosso, virou boca de cena, espetáculo para dois dias, segue à frente e traz nova peça. De artilharia. De costa, claro.
Um anedotário, contado por quem saiu agora da bolha e se confronta – ou conforta, com a estranheza de ter que tomar decisões para as quais, visivelmente, não estava preparado.
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Vejamos. Num país com fracos recursos e onde a SEDES apresentou uma ideia de reforma fiscal, para pôr todos a pagar impostos (nem que seja um euro) a resposta foi espremer o orçamento. Felizes lá anunciaram a duplicação da consignação do IRS, que permite dar parte do imposto, que iria para o Estado, a entidades à escolha dos contribuintes. Só se esqueceram de dizer que tal só é possível a quem o paga, os outros, que não o pagam por minguados salários e precisam do amparo seja nas infraestruturas seja na política social, são enjeitados.
Pior, no mesmo Conselho em que foi decidida a prebenda descobriu-se que afinal já há défice.
Um tirar aos pobres para dar aos ricos, de quem está habituado a transformar factos em histórias. Talvez falta de perspicácia ou ironia, que isto, afinal, o cofre não estava assim tão cheio. Oleados na rotina frenética de imputar ao passado os deslizes do futuro, distorcemos factos e verdades. Soldados despedidos e depois chamados, como a dignidade dos capazes fosse agradar aos novos senhores.
Mais feliz, a ideia de formar um batalhão de delinquentes, um regimento de meliantes e, já agora, uma companhia de operações especiais de cabotinos. Para cabotinar, transformar a caserna em reformatório. “Porta-te bem, cabeça de papel, se não vais preso para o quartel”.
Num tema sério, com as convulsões a que chegámos e com um quarto do efetivo militar mobilizado em operações no exterior para defender o nosso modo de vida, cheira a piada, a gozo ou incapacidade.
Recrutar jovens que cometam pequenos delitos para as Forças Armadas, ideia antiga e agora retomada, é disparate que pode sair caro, embora dê espetáculo bonito.
Melhor que isto só o desdobramento e o fenomenal desenvolvimento do Metro do Mondego.
Ali em Ovar, junto a uma base aérea que ainda não aceita pequenos criminosos, há também uma fábrica de autocarros a hidrogénio que exporta estes veículos. Ora os nossos estudantes fazem a festa, deitam os foguetes e apanham as canas quando, contentes, acompanham a saída das composições do MetroBus da China para Coimbra.
Entretanto, em Bruxelas, a União Europeia procura explicar à China as implicações de apoiar financeiramente a guerra na Ucrânia e de atribuir subsídios para os veículos elétricos que produz.
Felizes com as 35 composições, que vão entrar ao serviço da linha de MetruBus do Mondego, na cidade de Coimbra, ainda batemos palmas à apresentação ao povo.
Pode ser, como dizia o outro, um simulacro de oposição, ou, melhor ainda, uma exoneração e um pedido para ficar. Haja misericórdia, que a desconfiança é generalizada.
Nas instituições democráticas, não na corporação, que lhes falta cojones para demitirem quem lhes deu o pote de mel.
Parece que afinal temos poderes não escrutináveis e sem prestação de contas.
Mas tudo isto vai acabar, mal o nevoeiro passe e Dom Sebastião acene da sua bolha ao povo embasbacado.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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