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Investigadora de Coimbra mostra cancro da mama a partir de Picasso, Rafael e Rubens
A catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Helena Saldanha mostra a representação da mulher com cancro da mama a partir de obras de arte, numa conferência a decorrer no sábado, no Museu Machado de Castro, em Coimbra.
“Há obras em que é indiscutível a presença de tumores”, contou à agência Lusa Helena Saldanha, que irá realizar a conferência no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Mulher, organizadas pelo núcleo do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).
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No século XVI, a professora e médica encontra na pintura barroca “As Três Graças”, do artista flamengo Peter Paul Rubens, “todos os sinais de um cancro da mama em estado avançado” numa das mulheres desse mesmo quadro, em que o inchaço na axila indica uma invasão do cancro, disse à Lusa.
Esta foi a “época em que a medicina se começou a desenvolver, em que o Homem era considerado o centro do universo e em que houve uma maior atenção ao corpo humano, sem o querer transformar em estátuas greco-romanas”, afirmou Helena Saldanha, convicta de que Rubens pintou “de forma consciente o tumor da mulher” representado na pintura.
A médica, já reformada, decidiu aprofundar a ligação entre a medicina e a arte, com a frequência no curso de História da Arte, em Coimbra, tendo, desde nova, reparado nas “anomalias do tipo médico” em obras de arte, que então “não conseguia explicar”.
Depois de frequentar o curso, aceitou o desafio do Núcleo Regional do Centro da LPCC para investigar a representação do cancro da mama na arte, ao longo da História.
Antes do século XVI, segundo a catedrática, o corpo “surgia sem defeitos”, encontrando-se depois “uma aproximação à realidade” em Rubens ou no pintor italiano Rafael, que representa o cancro da mama num retrato da sua amante, Marguerita Luti.
Outros artistas mais recentes abordam o tema, como Picasso, em que numa das suas obras se observa uma mastectomia, ou o francês Marcel Duchamp, do início do século XX, “numa obra pouco conhecida”, com uma legenda por cima da mama a dizer “por favor, toque”, remetendo para a prevenção, sublinhou.
Também na obra “A persistência da memória”, do espanhol Salvador Dalí, Helena Saldanha encontra alusões ao cancro, numa pintura em que “é transmitido o pavor tremendo que o pintor tinha pela morte e pelo cancro, numa clara vontade de ver o tempo prolongar-se”.
Para além do diagnóstico e da terapêutica, a professora catedrática irá recorrer a quadros de natureza morta para referir a necessidade de “uma alimentação adequada” e a pinturas que retratam a obesidade ou a magreza excessiva.
Tudo para “chamar a atenção para um diagnóstico precoce e um estilo de vida saudável”, frisou Helena Saldanha, considerando que “é necessário que a mulher conheça o seu corpo e que a mãe ensine a filha a conhecer a sua própria mama e a palpar-se regularmente”.
“A mama tem uma simbologia que foi sempre ilustrada ao longo da História. A mama está correlacionada com a fertilidade, com o erotismo, com a vida, mas também com o sofrimento”, concluiu.
A conferência será realizada às 18:00 de sábado, seguindo-se a declamação de poemas por quatro atrizes de quatro companhias de teatro de Coimbra e um concerto protagonizado pelo Coimbra Gospel Choir em torno de espirituais negros e temas gospel.
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