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Investigadora da Universidade de Coimbra conclui que mumificação natural cresce nos cemitérios
Os cemitérios portugueses registam cada vez mais casos de mumificação que acontece de forma natural, provocando constrangimentos em termos de espaço, alertou hoje a investigadora em Antropologia Forense da Universidade de Coimbra, Ângela Silva Bessa.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora explicou que a mumificação natural vem ocorrendo, nos últimos anos, em cemitérios de todo o país, o que obriga a que as sepulturas temporárias permaneçam ocupadas para além dos três anos previstos na lei, até à exumação do cadáver.
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“A Lei devia ser revista, pois este é um problema cada vez maior em Portugal. Se o corpo estiver mumificado, dificilmente vai decompor-se, mesmo que fique inumado por mais dois, quatro ou seis anos”, alegou.
De acordo com Ângela Silva Bessa, a investigação que vem realizando nos últimos três anos, em cemitérios do Porto, Braga, Figueira da Foz, Mértola e Faro, permitiu registar “casos em que era a quarta vez que tentavam exumar o cadáver”.
“A lei diz que no fim de três anos o cadáver estará pronto para ser exumado e, no caso das sepulturas temporárias, estas poderem serem reutilizadas. No entanto, quando a decomposição cadavérica não se verifica, a inumação terá de continuar, por períodos sucessivos de dois anos, em que a cada dois anos se desenterra o corpo e chamam-se os familiares para verificar o seu estado”, descreveu.
Para a sua investigação, a doutoranda procurou cemitérios de todos os pontos do país, de forma a tentar perceber se as diferenças de solos estariam a influenciar a decomposição cadavérica.
“Os solos são muito diferentes de norte a sul de Portugal, mas os resultados são muito semelhantes em termos de decomposição. Em termos de matéria orgânica também, são muito parecidos entre si”, indicou.
Segundo Ângela Silva Bessa, de 28 anos, ainda não se sabe muito bem o que influencia a decomposição humana, embora se acredite que esta ocorra mediante um conjunto de variáveis que atuam entre si.
“Dentro de cada cemitério, mesmo em sepulturas uma ao lado da outra, temos cadáveres em estados muito diferentes de decomposição. O solo é igual, logo pensamos que são também fatores intrínsecos ao indivíduo, que poderão estar a causar esta preservação cadavérica”, admitiu.
A bolsa que lhe foi atribuída, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), para a realização do doutoramento em Antropologia Forense na Universidade de Coimbra, termina em outubro de 2023, tendo pela frente mais um ano de investigação.
“Temos de perceber como é que podemos ajudar na aceleração da decomposição cadavérica, para depois dos três ou quatro anos termos o corpo para exumação”, acrescentou.
No seu entender, mesmo que a lei viesse a ser alterada, no sentido de haver um alargamento do prazo de três para cinco anos para a exumação do cadáver, “o problema irá manter-se”.
“Continuaríamos com o problema da falta de espaço em cemitérios, sobretudo nos centros urbanos, onde não é possível alargar os cemitérios ou construir novos”, concluiu.
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