Política
Incerteza do vencedor e governabilidade marcam notícias “lá fora”
A incerteza sobre o vencedor das eleições e a questão da governabilidade em Portugal marcam várias notícias internacionais sobre as eleições de domingo, com referências também à dúvida sobre a participação de eleitores confinados pela pandemia.
A agência noticiosa espanhola EFE escreve hoje que um “Portugal dividido” vota no domingo, com um “cenário aberto” entre PS e PSD que “dá a chave da governabilidade aos partidos minoritários à direita e à esquerda”.
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“A batalha eleitoral já não depende de António Costa e Rui Rio, mas das suas alternativas para alcançar um pacto”, diz a EFE aos seus clientes, numa referência aos líderes do PS e do PSD.
Tanto a EFE como a Agence France-Presse (AFP) noticiam que a campanha eleitoral chega ao fim com as sondagens a indicarem um “empate técnico” entre socialistas e sociais-democratas.
A agência norte-americana Associated Press (AP) lembra que Portugal, “um país de 10,3 milhões de pessoas”, vai beneficiar do pacote de ajuda da União Europeia (UE) para revitalizar a economia após a pandemia de covid-19.
“Os novos fundos são vistos como uma nova oportunidade para Portugal recuperar o terreno perdido”, escreve a AP, referindo que as eleições antecipadas poderão deixar o país como estava há dois meses: “com um governo minoritário vulnerável”.
“Um aparente aumento do apoio aos partidos mais pequenos significa que os dois principais partidos terão provavelmente de fazer um acordo com um ou mais deles, sendo esperado um período prolongado de negociação política”, acrescenta.
A edição europeia do Politico salienta que as eleições portuguesas se transformaram “subitamente” num impasse, por a liderança “outrora confortável” do PS nas sondagens ter sido posta em causa pelo PSD.
Quando a campanha começou, algumas sondagens davam uma vantagem de 10 pontos aos socialistas e “a única incerteza parecia ser se o PS iria ganhar uma maioria absoluta ou se seria forçado a procurar parceiros para governar, como nos últimos seis anos”, recorda.
Mas, para o Politico, o PSD liderado por Rui Rio tem conseguido contrariar o que parecia dado como adquirido, e a sua oposição moderada ao Governo e uma campanha com humor, em que até entrou o gato Zé Albino, parecem estar a resultar.
“Se as sondagens estiverem certas, nenhum dos partidos conseguirá uma maioria e quem ganhar terá de lutar para construir uma aliança governamental que funcione”, acrescenta.
A TV britânica BBC também diz que António Costa começou a campanha com confiança, a pedir uma maioria absoluta, “apesar de isto ser visto como tabu, porque o único líder do PS a conseguir uma, José Sócrates, enfrenta atualmente acusações de corrupção (que ele nega)”.
Mas, à medida que a diferença nas sondagens diminuía, “Costa mudou de rumo, declarando que, afinal, estava aberto a negociações”.
A TV árabe Al Jazeera destaca que “negociações prolongadas e imprevisíveis para formar um novo governo esperam muito provavelmente quem ganhar a maioria dos votos no domingo”.
Num outro artigo, inserido numa secção do seu ‘site’ dedicada à emergência da extrema-direita em vários países, a Al Jazeera nota que o Chega poderá tornar-se o terceiro partido, embora a uma “distância considerável” de PS e PSD.
O diário espanhol El Pais fala hoje sobre André Ventura, o político “antissistema que quer ser ministro”.
Em edições durante a semana, o El Pais deu conta de que Catarina Martins (BE) “quer reeditar a experiência da ‘geringonça’ (…) e fazer esquecer a rutura da esquerda que levou à antecipação das eleições”, enquanto António Costa se “quer livrar” da mesma “geringonça”.
Sobre os debates televisivos “de todos contra todos”, um articulista do El Pais considerou-os um triunfo e um sinal de que “a política importa em Portugal”.
O El Mundo noticia hoje que Rio se aproxima de Costa nas intenções de voto e “promete reformas sem revoluções”, depois de, na quinta-feira, ter considerado que Portugal vai votar “num cenário de quase ingovernabilidade”.
“As eleições mais abertas da história de Portugal estão a ser realizadas com um milhão de pessoas confinadas e com o risco de serem inúteis e de terem de votar novamente dentro de seis meses”, escreveu o El Mundo.
Ao canal Euronews, Elisabetta De Giorgi, uma perita em política portuguesa da Universidade de Trieste em Itália, disse que o resto da Europa, e particularmente o Sul, deveria estar atento à estabilidade política em Portugal.
“Sei que parece estranho, porque estão a ter eleições antecipadas, mas politicamente têm sido o país mais estável do Sul da Europa desde a crise económica”, disse.
Para a perita italiana, há “outra coisa excecional” sobre Portugal: “em muitos países do Sul da Europa, os partidos populares perderam popularidade nos últimos anos, mas, em Portugal, a competição tem continuado a ser entre os dois [maiores] partidos em todos estes anos, desde o início da crise financeira”.
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