Saúde

Hospital Pediátrico de Coimbra regista 248 casos de infeções em 10 anos

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 dia atrás em 27-01-2025

 Um estudo realizado nos últimos dez anos num serviço de cuidados intensivos pediátricos identificou 248 casos de infeções associadas aos cuidados de saúde, com uma prevalência de 6,3%, a maioria em lactentes e a pneumonia a infeção mais frequente.

O estudo retrospetivo incluiu todas as crianças e adolescentes (até aos 18 anos) admitidos no Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos (SCIP) do hospital pediátrico da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra, entre 1 de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2023, com diagnóstico de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) estabelecido durante o internamento.

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Neste período registaram-se 3.913 internamentos, tendo sido identificados 248 casos de infeções adquiridas no serviço, correspondendo a uma prevalência de 6,3%, valor de acordo com o relatado por outros SCIP internacionais e inferior ao descrito pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (12,7%) para serviços de cuidados intensivos de adultos.

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A maioria (55,2%) dos doentes com IACS tinha menos de um ano na altura da admissão no SCIP, apresentando uma idade mediana de 6,3 meses, destacando-se nos antecedentes pessoais e patológicos a doença cardíaca, prematuridade e patologia gastrointestinal com necessidade de cirurgia, refere o estudo “Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde em Idade Pediátrica: 10 Anos de Experiência num Serviço de Cuidados Intensivos”.

As infeções mais frequentes foram pneumonia (45,2%) e bacteriemia (14,5%), sendo os agentes infecciosos mais comuns os Gram negativos, nomeadamente a ‘Escherichia coli’, a ‘Pseudomonas aeruginosa’ e a ‘Klebsiella pneumoniae’.

A mediana da duração de internamento no SCIP foi de 21 dias, superior ao descrito em outros serviços e países (três a nove dias), e a mediana do tempo decorrido desde a admissão até à identificação de uma IACS foi de 10 dias.

Ocorreram 29 óbitos (11,7%), dos quais 10 (34,5%) foram relacionados com a infeção adquirida no hospital (infeção nosocomial).

“Os resultados destacaram a suscetibilidade aumentada à infeção em crianças com antecedentes médicos específicos, como patologia cardíaca e perinatal, enfatizando a importância da vigilância e prevenção dessas populações vulneráveis”, defende o estudo publicado na Acta Médica Portuguesa, a revista científica da Ordem dos Médicos (OM).

Também foi observado um aumento global das resistências antibióticas nos últimos cinco anos, o que aponta para “a necessidade de um uso prudente de antibióticos e da vigilância contínua dessas resistências”.

“Torna-se cada vez mais urgente implementar estratégias eficazes para prevenir e controlar o avanço das bactérias resistentes de forma a garantir a eficácia das terapêuticas atuais e a segurança dos doentes e prevenir uma grande ameaça à saúde pública global”, refere o artigo sobre o estudo publicado na revista da OM.

Estima-se que a prevalência de infeções adquiridas em SCIP varie entre 9% e 37% na Europa e Estados Unidos da América, representando as IACS e as respetivas resistências aos antimicrobianos uma ameaça à saúde pública global.

“Os doentes internados nestes serviços apresentam uma probabilidade duas vezes superior de contrair uma infeção nosocomial relativamente aos doentes internados noutras enfermarias”, concluiu o estudo.

Um dos principais fatores de risco associado às IACS são os dispositivos médicos invasivos, “amplamente utilizados em serviços de cuidados intensivos, que acarretam um importante risco de colonização por bactérias e fungos”.

As IACS mais frequentes são a pneumonia associada ao ventilador, a infeção do trato urinário relacionada com a sonda vesical e a bacteriemia associada ao cateter venoso central.

Embora a incidência de casos observada estivesse dentro dos valores relatados por outros serviços internacionais, o estudo observa que a falta de investigações epidemiológicas em Portugal destaca a necessidade de mais investigação para compreender melhor a situação no contexto nacional.

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