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Há uma portuguesa a calibrar o maior telescópio espacial
O telescópio espacial James Webb tem “ao leme” num dos seus instrumentos a astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira, responsável pela sua calibração, que espera do novo “olho” do Universo “descobertas fantásticas e revolucionárias”.
A astrónoma trabalha no Centro de Operações Científicas da Agência Espacial Europeia (ESA), em Espanha, onde tem tido a seu cargo a calibração de um dos quatro instrumentos do telescópio, o espectrógrafo NIRSpec, fornecido pela ESA.
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Depois do lançamento do James Webb, previsto para sexta-feira, Catarina Alves de Oliveira participará na “campanha de preparação” do telescópio para observações científicas, que se iniciarão ao fim de seis meses. Os primeiros dados científicos são esperados em meados de 2022.
“Vou estar no centro de controlo da missão nos Estados Unidos a monitorizar o estado e o desempenho do NIRSpec. Também estarei envolvida na calibração deste instrumento, analisando alguns dos primeiros dados que o Webb vai adquirir no espaço”, descreveu à Lusa, acrescentando que irá “dar apoio à comunidade científica para que aprenda a utilizar os instrumentos do Webb da melhor forma”.
“O que, esperamos, abrirá as portas a descobertas fantásticas”, frisou.
Segundo a astrónoma, o novo telescópio espacial foi concebido para “descobertas revolucionárias em todos os campos da astronomia”, como o nascimento das primeiras estrelas e galáxias.
Ao mesmo tempo, “é um feito notável de engenharia”: tem “o maior espelho alguma vez lançado para o espaço, composto de 18 segmentos hexagonais revestidos de ouro, com um diâmetro de 6,5 metros”.
“Isto faz com que seja 100 vezes mais sensível do que o telescópio Hubble”, realçou. O telescópio James Webb, assim chamado em homenagem a um antigo administrador da agência espacial norte-americana (NASA), será o sucessor do Hubble, na órbita terrestre há 31 anos.
Para caber no foguetão que o transportará para o espaço, o novo telescópio teve de “ser dobrado”. “Uma vez no espaço, será efetuada uma sequência de montagem até atingir a sua configuração final”, esclareceu Catarina Alves de Oliveira.
O telescópio irá ganhando a sua forma final enquanto viaja até ao seu destino, a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, o equivalente a quatro vezes a distância que separa o planeta da Lua. A “viagem” demorará cerca de um mês. Depois, segue-se “a fase de alinhamento do espelho segmentado e testes para comprovar o funcionamento dos instrumentos”.
Uma das técnicas que os instrumentos do telescópio utilizam é a espectroscopia, que “divide a luz que entra” no engenho “em vários comprimentos de onda, oferecendo uma informação mais detalhada” dos corpos celestes, como “os movimentos de uma galáxia ou as moléculas presentes na atmosfera de um planeta”, exemplificou a cientista.
O espectrógrafo NIRSpec, no qual Catarina Alves de Oliveira tem trabalhado, foi desenhado para detetar a luz das primeiras estrelas e galáxias que se formaram no Universo jovem, cerca de 400 milhões de anos após o Big Bang (teoria que situa o nascimento do Universo há 13,8 mil milhões de anos).
De acordo com a ESA, o instrumento vai dividir a luz infravermelha (luz invisível) dessas estrelas e galáxias nas suas componentes de cor – o espetro – e fornecer aos cientistas informações sobre a sua composição química, propriedades, idade e distância.
O NIRSpec será também usado para estudar as fases iniciais do nascimento de estrelas da Via Láctea e analisar as propriedades atmosféricas de planetas extrassolares, “avaliando o potencial de vida noutras partes do Universo”.
Catarina Alves de Oliveira salientou que o telescópio, para poder observar na luz infravermelha, tem de operar a uma temperatura de -233 graus Celsius.
“O que significa que todos os sistemas a bordo devem ser capazes de arrefecer no espaço, e isto é conseguido através do escudo solar desdobrável do tamanho de um campo de ténis que mantém o telescópio frio”, precisou.
O telescópio, que será lançado a bordo de um foguetão europeu Ariane 5, da base da ESA de Kourou, na Guiana Francesa, resulta de uma colaboração entre a NASA, a ESA e a agência espacial canadiana (CSA).
O envolvimento de Catarina Alves de Oliveira no James Webb tem sido longo, como tem sido longa a espera pelo envio do telescópio para o espaço, sucessivamente adiado.
A astrónoma trabalhou “vários anos” nos Estados Unidos “para assegurar a contribuição da ESA na fase de desenvolvimento” do telescópio, tendo participado nas “campanhas de teste” que decorreram nos centros da NASA, que tem liderado um projeto com mais de 30 anos que resvalou diversas vezes nas datas de lançamento e no orçamento.
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