Região

Governo, autarcas e adversários políticos à mesa pela sardinha na Figueira da Foz

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 17-05-2021

Dezenas de convivas, de antigos e atuais governantes, passando por autarcas, responsáveis de entidades regionais e nacionais, deputados ou empresários, entre outros, assinalaram hoje, ao almoço, na Figueira da Foz, o primeiro dia da safra de sardinha.

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Os convidados, alguns institucionais, a maioria a título particular, puseram quase literalmente o pé na areia na praia de Buarcos, no restaurante com o mesmo nome, espalhados por mais de uma dezena de mesas, num evento informal, que se realiza há vários anos e se prolongou pela tarde, promovido por António Lé, presidente da cooperativa de produtores de peixe do Centro Litoral.

Na mesa principal, o organizador do almoço estava ladeado pelo ministro do Mar, Ricardo Serrão dos Santos e pela sua antecessora no cargo, Ana Paula Vitorino, que, em declarações à agência Lusa, se mostrou uma apreciadora e especialista em sardinha: “Comparando com os anos mais recentes, para esta altura esta sardinha está excelente. Não está pequenina, tem uma textura boa, tem um sabor fantástico e algumas delas já têm ovas. Temos aqui uma bela sardinha, não só pela quantidade que já existe [no mar] mas pela boa qualidade”, asseverou.

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Ana Paula Vitorino não deixou de lembrar os pescadores, classificando-os de “verdadeiros heróis”, em especial pelos anos de escassez daquele peixe e de medidas limitadoras da pesca, tomadas para repor os ‘stocks’, que assumiram com o Governo, “de braço dado, lado a lado”.

“Se há coisa que eu aprendi como ministra do Mar é que os pescadores são uma das classes profissionais e sociais no nosso país que mais merecem consideração. Já não estou em funções [governativas] mas tenho-lhes um apreço muito especial. E acho que, muitas vezes, temos classes profissionais que têm mais preparação científica e técnica e não percebem tanto o alcance das coisas como esta gente percebeu”, argumentou.

E se para Ana Paula Vitorino, a sardinha “não é só mais uma espécie de peixe”, antes “uma referência nacional, não só de turismo, mas da nossa própria gastronomia, das nossas casas”, suporta igualmente a indústria conserveira nacional, da qual “é o ‘ex-libris’”, alegou.

Já o ministro Ricardo Serrão dos Santos classificou de “deliciosa” a sardinha que hoje comeu na Figueira da Foz.

Quanto ao almoço, onde também teve a companhia de outros governantes, como a secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho ou o secretário de Estado da Conservação da Natureza, João Paulo Catarino, o ministro do Mar definiu-o, com uma gargalhada de permeio, como “um convívio muito peculiar, muito amistoso, onde se reforçam laços e se desenham cadernos de encargos, também”.

“É um momento especial o início da safra da sardinha, que este ano foi mais cedo. A sardinha é não só um símbolo da nossa gastronomia, como do gosto do nosso povo, e também está muito entrosada na nossa cultura”, notou o ministro.

O presidente da autarquia da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, destacou o “processo de valorização da sardinha” e a sua generalização “muito importante do ponto de vista económico”.

“E depois houve todo um trabalho dos nutricionistas a falar dos peixes azuis e das suas vantagens. E depois é um peixe bom e esta estava muito boa”, enfatizou.

Por outro lado, Carlos Monteiro assinala que “tirando períodos muito pontuais, é um peixe que não está a preço desproporcionado” ao consumidor.

Se o mote do almoço era a sardinha, aos jornalistas não passou despercebida a presença, no mesmo espaço e pela primeira vez, de três dos já anunciados candidatos à Câmara Municipal da Figueira da Foz: Para além de Carlos Monteiro, candidato pelo PS, Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal e candidato do PSD e Santana Lopes, ex-presidente da Câmara e candidato independente, todos em mesas diferentes e os dois últimos com todo o espaço da esplanada coberta do restaurante a separá-los.

Presente no almoço enquanto presidente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado classificou a sardinha que comeu como “extraordinária para esta primeira aparição do ano”.

“É de facto um produto muito importante para nós, para a afirmação da gastronomia local e regional, e simultaneamente uma forma de continuarmos a promover a Figueira da Foz e o Centro de Portugal”, referiu.

Considerando a sardinha “um produto absolutamente conciliador”, Pedro Machado, numa referência ao almoço de hoje, disse que esta “consegue atrair todos aqueles que têm estado em todas as edições nos últimos anos, mas também aqueles que pela primeira vez aparecem nesta edição de 2021. E são todos bem-vindos”.

Já Santana Lopes não quis falar aos jornalistas, saiu antes da sobremesa e apenas referiu que a sardinha estava “boa”.

Apesar da coincidência ‘espacial’ de candidatos camarários, aos jornalistas, o organizador António Lé, avisou que o almoço não se prestava a “folclore autárquico”.

“Os três merecem cá estar, foram convites particulares, aqui não há folclore autárquico”, disse.

Mesmo se o presidente da Câmara de Ovar e vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro – na Figueira da Foz a convite “pessoal” de António Lé e por “gostar de sardinha” – justificou a presença também “para dar uma força muito grande ao Pedro Machado”.

Do outro lado da sala, José Carlos Alexandrino, autarca de Oliveira do Hospital e presidente da comunidade intermunicipal da Região de Coimbra, explicou que ‘desceu’ à praia por causa da sardinha: “mas quero que ela chegue à montanha porque os meus munícipes têm os mesmos direitos que os da Figueira”, brincou.

Num resumo do almoço de início da safra, o armador António Lé sublinhou as particularidades da sardinha: Junta gente de todos os quadrantes, políticos, económicos, sociais, tudo. E tem esta vantagem: antigamente era o repasto dos pobres, hoje é o convívio das gentes portuguesas, da génese de um povo”, declarou.

Por José Luís Sousa (texto) | Agência Lusa 

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