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Fundador do Banco Privado diz que lamenta profundamente que os investidores tenham perdido dinheiro
O fundador do Banco Privado Português (BPP) lamentou hoje, em tribunal, que os clientes da Privado Financeiras tenham perdido 100% do capital que investiram no veículo que apostava em ações do BCP.
“Lamento profundamente que os investidores tenham perdido dinheiro”, afirmou o antigo banqueiro, durante a sua audiência na primeira sessão do julgamento do caso Privado Financeiras.
Questionado por um dos juízes sobre o que correu mal na estratégia de investimentos do veículo que ditou perdas avultadas para os clientes, Rendeiro respondeu que “o que correu mal foi os clientes terem perdido dinheiro”.
E garantiu: “Não foi a minha vontade. Foi uma razão conjuntural. O aumento de capital [do Banco Comercial Português (BCP), em 2008] devia ter corrido bem”.
Segundo o arguido, “no mercado de capitais ninguém pode prever qual é a cotação de um título amanhã. Ninguém sabe”.
“Podemos tentar é prever o preço de um título dentro de três anos”, acrescentou, salientando que “a economia não é uma ciência exata”.
O próprio João Rendeiro terá perdido, no mínimo, 6 milhões de euros com a aposta nas ações do BCP.
“Eu investi três milhões de euros no primeiro aumento de capital e mais três milhões de euros no segundo aumento de capital [da Privado Financeiras]”, revelou ao coletivo de juízes presidido por Nuno Salpico.
“Tive um prejuízo total direto de seis milhões de euros a que se soma um prejuízo indireto de 12,5% dos 45 milhões de euros [investidos pela Privado Financeiras, da qual era acionista]”, acrescentou.
Assim, somando ambas as verbas, Rendeiro terá perdido a título individual um montante global de 11,625 milhões de euros neste veículo do universo BPP.
Já os outros dois arguidos neste processo, Salvador Fezas Vital e Paulo Guichard, somaram prejuízos de um milhão de euros cada, segundo o fundador do BPP.
Sobre o perfil dos restantes investidores da Privado Financeiras, o antigo presidente do BPP disse que “grande parte eram acionistas da Privado Holding [antiga dona do BPP]”, lançando os nomes de Francisco Pinto Balsemão, Stefano Saviotti e Joaquim Coimbra.
“Balsemão era o segundo maior investidor”, especificou, acrescentando que “o núcleo central de investimento da Privado Financeiras era composto por ‘investidores históricos'”.
Rendeiro realçou que, “na sua maioria, estes investidores já tinham beneficiado com operações semelhantes anteriormente”, através de outros veículos que investiam noutros títulos, como a Jerónimo Martins, a Estoril-Sol, a Somague e a CIN.
Já sobre o porquê de a Privado Financeiras apostar apenas num único título, no caso, do BCP, Rendeiro disse que “a tradição dos veículos de ‘private equity’ era essa”.
E reforçou: “O ‘private equity’ [capital de risco] de João Rendeiro não era isso [investir num cabaz, numa estratégia associada a retorno relativo e diversificado]”.
“Se tivéssemos investido num cabaz de títulos o resultado não teria sido muito diferente. Basta ver o gráfico da evolução da cotação do BCP e dos índices setoriais europeus”, vincou.
A aposta num único título foi ainda justificada por Rendeiro com a intenção de “ter voz ativa” nas empresas alvo de investimento.
“O BCP foi uma boa aposta inicial, mas não há qualquer dúvida de que a aposta no setor financeiro foi uma péssima aposta”, argumentou.
Quanto à participação da Privado Financeiras na operação de aumento de capital do BCP, em 2008, foi justificada por Rendeiro como uma tentativa do veículo baixar o preço médio por ação do banco que tinha em carteira.
“A tese do Ministério Público é que o Banco de Portugal exigiu que a Privado Financeiras fizesse um aumento de capital para pagar o descoberto de emergência em vez de comprar ações do BCP”, afirmou.
Mas, segundo o arguido, o veículo de investimento tinha “vários objetivos” nesta operação, entre os quais, reforçar a sua posição para 4% no capital do BCP.
Porém, garantiu, “mais do que atingir a meta de 4% no BCP, o objetivo principal era baixar o custo médio das ações”.
Rendeiro revelou que, na altura, a carteira de títulos do BCP nas mãos da Privado Financeiras tinha um preço médio de 3,2 euros por ação e que, em fevereiro de 2008, a cotação do banco no mercado tinha baixado para 2,6 euros por ação.
“Era um ‘gap’ [diferença] muito grande. Era muito urgente do ponto de vista estratégico do veículo baixar o preço médio das ações”, justificou.
Revelando que tinha a expectativa que “muitos investidores não quisessem ir ao aumento de capital do BCP”, o que levou a Privado Financeiras a avançar com um pedido de subscrição de 100 milhões de ações sobrantes (a 1,2 euros por ação), Rendeiro disse que a elevada participação dos acionistas do BCP – 99% acompanharam a operação – impediu que este plano resultasse.
“Comprámos muito pouco face àquilo que se pretendia”, assinalou.
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